segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A Importância da neuropsicopedagogia nas práticas da educação inclusiva.

FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 2, Série 15/02, 2021.


Prof. Esp. Daniel Rodrigues de Lima.

Graduado em História - UNIASSELVI.

Especialista em Ensino de História - FETREMIS.

Especialista em Gestão e Tutoria em EAD - UNIASSELVI.

Mestrando em História (UFAM).

Professor de História do Colégio FAMETRO (Manaus-AM).


Profa. Maria Zélia de Alencar de Andrade.

Orientadora Educacional e Neuropsicopedagoga

do Colégio FAMETRO (Manaus-AM).



RESUMO: Na sociedade globalizada e diversa novas formas de ensinar e aprender podem e devem fazer parte do cotidiano escolar, sendo assim, propõe-se a seguinte pesquisa com a presente temática: "A Importância Da Neuropsicopedagogia Nas Práticas Da Educação Inclusiva”. Os objetivos a alcançar nas páginas que seguem são: Compreender as contribuições que a Neuropsicopedagogia pode possibilitar às práticas de ensinar e aprender na Educação Inclusiva. Além disso, conceituar brevemente acerca do que vem a ser a Neuropsicopedagia e a Educação Inclusiva e identificar a relação ou interação existente entre a Neuropsicopedagogia e a Educação Inclusiva. A metodologia utilizada para a elaboração da pesquisa foi uma revisão bibliográfica. Por fim, a neuropsicopedagogia é um campo novo de estudos que está aberto a novos conhecimentos, e consequentemente, pode contribuir de forma eficiente eficaz com a educação inclusiva, possibilitando que o ato de aprender possa atingir a todos, respeitando os ritmos e formas próprias de aprender de cada um de nós.

PALAVRAS-CHAVE: Neuropsicopedagogia, Aprendizagem, Inclusão.

 

ABSTRACT: In a globalized and diverse society, new ways of teaching and learning can and should be part of the school routine, therefore, we propose the following research with the present theme: “The Importance of Neuropsychopedagogy in Inclusive Education Practices”. The objectives to be achieved in the pages that follow are: Understand the contributions that Neuropsychopedagogy can make possible to the practices of teaching and learning in Inclusive Education. In addition, briefly conceptualize what Neuropsychopedagogy and Inclusive Education become and identify the relationship or interaction between Neuropsychopedagogy and Inclusive Education. The methodology used for the elaboration of the research was a bibliographic review. Finally, neuropsychopedagogy is a new field of studies that is open to new knowledge, and consequently, it can contribute efficiently to inclusive education, enabling the act of learning to reach everyone, respecting the rhythms and ways of learn from each of us.

KEYWORDS: Neuropsychopedagogy, Learning, Inclusion.

 

1. INTRODUÇÃO.  

Na sociedade globalizada e diversa novas formas de ensinar e aprender podem e devem fazer parte do cotidiano escolar, sendo assim, propõe-se a seguinte pesquisa com a presente temática: “A Importância Da Neuropsicopedagogia Nas Práticas Da Educação Inclusiva”.

A escolha do tema ocorre devido se acreditar que a Neuropsicopedagogia pode trazer contribuições de maneira eficiente e eficaz, possibilitando a melhoria da Educação e, especialmente,  o desenvolvimento da inclusão.

Haja vista, que a Neuropsicopedagogia orienta seus estudos acerca de ensinar e aprender nos seres humanos, levando em consideração diversos aspectos inerentes a este processo como: o funcionamento do cérebro, a cognição, a metacognição, emoções, afetos, sentimentos, sinestesia, além de questões ambientais e socioculturais.

Além disso, no trabalho com a educação Inclusiva que desenvolvemos em uma Instituição da rede privada de ensino no Estado do Amazonas, percebe-se muito a melhorar no que diz respeito as práticas de inclusivas, principalmente, em relação aos processos de ensino e aprendizado de indivíduos com deficiências, distúrbios ou algum tipo de transtornos.

O objetivo é compreender as contribuições que a Neuropsicopedagogia pode possibilitar às práticas de pedagógicas na Educação Inclusiva.

Além disso, pretende-se conceituar brevemente a Neuropsicopedagia e a Educação Inclusiva, identificando a relação ou interação existente entre ambas.

Esta conceituação se faz necessária no sentido de aperfeiçoar, desenvolver e contribuir com a promoção de ações, que produzam situações de ensinar e aprender, respeitando a diversidade e o ritmo dos indivíduos.

As discussões aqui são apresentadas são fruto de pesquisa e leitura de artigos disponibilizados na rede mundial de computadores, em que um destaques consiste em documento técnico produzido pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp).

Neste, nota do parecer técnico-profissional da instituição representativa de número 01 do ano de 2016, trata de questões como atuação do neuropsicopedagogo em âmbito institucional e clínico, principalmente, como ator que pode contribuir para as ações em Educação Inclusiva.

Outro artigo de extrema relevância é de Vitor Fonseca (2014), intitulado “Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica”.

O autor desenvolve análises sobre como ocorre a aprendizagem a partir das funções citadas no título do artigo, além de conceituar cada uma das funções e direcionar sua importância no processo de aprender.

Entre outros artigos que consultamos, detaca-se “A neuroeducação e suas contribuições e às práticas pedagógicas contemporâneas”, de autoria de Callina dos Santos e Késila Sousa.

As autoras desenvolveram pesquisa sobre as contribuições que a neuroeducação pode trazer a práticas e ação educativa na atualidade, estabelecendo uma relação intrínseca com a neuropsicopedagogia.

A obra “Educação Inclusiva” de Marlei Floriani (2017) nos fornece conceitos sobre a temática, além de trazer discussão pertinente sobre as presentes nomenclaturas como: exclusão, segregação, inclusão, educação especial e educação inclusiva.

Estas são algumas das muitas contribuições que tivemos em nossa revisão de bibliografia, apenas mencionamos algumas, mas outros autores e suas respectivas obras mantiveram diálogo conosco em nossa pesquisa.

 

2. O QUE É NEUROPSICOPEDAGOGIA?

A Neuropsicopedagogia é uma ciência interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar, envolve em seus estudos conhecimentos das neurociências, psicologia e da pedagogia.

Em que no código de ética e técnico profissional nº 03/2014, elaborado pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, em seu artigo de número 10, tem-se o seguinte:

Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da Psicologia e Pedagogia que tem como objeto formal de estudo a relação entre cérebro e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar. (SBNPp, 2014, p.06)

 

Diante disso, utilizando saberes específicos das áreas que compõe a neuropsicopedagogia, de acordo com Ana Lúcia Hennemann, pode-se evidenciar que:

FERNANDEZ (2010) aponta para três pontos elucidativos da Neuropsicopedagogia, abordada por Suárez: 1º Educação; 2º Psicologia e 3º Neuropsicologia. Educação no intuito de promover a instrução, o treinamento e a educação dos cidadãos. A Psicologia com os aspectos psicológicos do indivíduo. E, finalmente, a Neuropsicologia com a teoria do cérebro trino, sendo que aqui oportunizou a teoria das múltiplas inteligências, propostas por Gardner. (HENNEMANN, 2012, p.06)

 

Sendo assim, a Neuropsicopedagogia busca evidenciar os conhecimentos relativos ao cérebro e como este tem papel preponderante no ato de aprender, através das funções cognitivas, conativas e executivas, ou seja:

Em síntese, a neuropsicopedagogia procura reunir e integrar os estudos do desenvolvimento das estruturas, das funções e das disfunções do cérebro, ao mesmo tempo que estuda os processos psicocognitivos responsáveis pela aprendizagem e os processos psicopedagógicos responsáveis pelo ensino. (FONSECA, 2014, p.236)

 

Além disso, proporciona a compreensão que cada indivíduo, devido sua diversidade e individualidade, possui maneiras e ritmos próprios no ato de aprender.

A neuropsicopedagogia é uma investigação da otimização e melhoramento máximo da aprendizagem em humana, estabelecendo diversos ritmos e formas de aprender.

A neurociência e o funcionamento do cérebro, mostrar que o sistema nervoso está associado a diversas funções, como: movimento, sentimentos, emoções, pensamento.

Assim, desenvolve a plasticidade do sistema nervoso através dos circuitos neurais que se metamorfoseiam constantemente e, portanto:

[...] essa nova área de neuropedagogia concede maior relevância ao conhecimento de que a aprendizagem se fundamenta nos processos cerebrais, e que os resultados cognitivos se ampliam paralelamente ao desenvolvimento humano. Ainda nessa ideia, ‘a proposta de neuroeducação é a de investigar as condições nas quais a aprendizagem humana pode ser otimizada ao máximo.’ (idem, p.23) pode-se observar que a relação da ciência cerebral com a aprendizagem é fundamental nessa relação contribuindo com entendimentos válidos na prática docente. (LIMA, 2016, p.01-02)

 

A neuropsicopedagogia deve com seus estudos auxiliar na promoção de novas práticas de ensinar e aprender, com isso, pode ser excelente parceira de uma educação que pretende ser cada dia mais inclusiva e diversa, em que:

Através dos conhecimentos neuropsicopedagógicos existe a possibilidade de entender como se processa o desenvolvimento de aprendizagem de cada indivíduo, proporcionando-lhe melhoras nas perspectivas educacionais e dessa forma desmistificar a ideia de que a aprendizagem não ocorre para alguns; na verdade sempre acontecerá a aprendizagem, entretanto para uns ela vem acompanhada de muita estimulação, atividades diferenciadas, respeitando o ritmo de desenvolvimento do indivíduo. (HENNEMANN, 2012, p.04)

 

A neuropsicopedagogia possibilita o entendimento do desenvolvimento e dos diversos ritmos de aprendizagem nos indivíduos, salienta que todos aprendem, uns com menos estímulos outros com muitas estimulações, sempre respeitando os ritmos e motivações individuais.

Assim, pode-se propor uma educação democrática com sua utilização como referência, ou seja, sem exclusão ou segregação, portanto inclusiva.

 

3. BREVE CONCEITUAÇÂO SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA.

Deve-se salientar que mesmo com a inclusão escolar sendo pauta das discussões e tendo legislação ampla na realidade brasileira, ainda muito pouco tem se demonstrado na prática.

Diante disso, cabe propor um breve entendimento conceitual sobre o vem a ser a Educação Inclusiva.

Faz-se necessário compreender que a educação de pessoas com algum grau de deficiência, distúrbios e transtornos teve várias nomenclaturas ao longo dos anos e com diversas práticas estabelecidas.

Podemos elencar os seguintes termos nessa longa caminhada: exclusão, segregação, integração e inclusão.

Segundo Marlei Floriani (2017, p.45):

 

“[...] Exclusão: ocorre quando separamos os alunos com necessidades especiais, não considerando a diversidade e limitando a participação de todos.

Segregação: ocorre quando as crianças com necessidades especiais são isoladas e separadas em grupos, em instituições de atendimento especializado, sem frequentar a escola comum.

Integração: insere o aluno no contexto escolar, mas não inclui. Trata-se do aluno especial na educação.

Inclusão: Considera a diversidade e as necessidades de todos os alunos, garantindo acesso, a permanência e a participação deles em salas de aulas comuns.”

 

É importante compreender que o conceito de Educação Especial é diferente do de educação Inclusiva, de acordo com Floriani (2017, p.45), a educação Especial “trata-se do atendimento do aluno especial em instituições especializadas”, ou seja, ocorre a integração, mas não inclusão.

No que tange ao que vem ser a Educação Inclusiva, o autor informa: “trata-se da inclusão de alunos com necessidades especiais em escolas comuns”, dessa forma, é estabelecida justiça social, onde considera a garantia de todos no processo educacional, sem segregar e nem excluir, permitindo a inserção e sociabilidade efetiva.

Cabe a todos os profissionais inseridos na educação lutar por uma escola com práticas inclusivas e democráticas, compreendendo que todos tem direito a aprender, devendo ser respeitados suas particularidades e individualidades.

Portanto, acredita-se que a neuropsicopedagogia e a educação Inclusiva podem valorizar e promover, nos indivíduos, a aprendizagem significativa, respeitando a diversidade dos sujeitos envolvidos no processo educativos.

 

4. A RELAÇÃO DA NEUROPSICOPEDAGOGIA COM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA.

No contexto da educação no mundo contemporâneo, o casamento entre Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva se faz mais que obrigatório, pois acabam se complementando, chegando a possuir um caráter intrínseco, em que ambas buscam o entendimento que todos devem e podem aprender.

 

No campo interventivo, a neuropsicopedagogia despontou como campo epistemológico do saber, advindo da leitura integrada entre pedagogia, psicologia, neuropsicologia, psicopedagogia e trabalho clínico. Sua contribuição se dá pela relação estabelecida entre o cérebro e a aprendizagem, como vias dúbias no processo cognitivo. Seus estudos abrangem um vasto conhecimento das bases neurológicas da aprendizagem e do comportamento humano, por meio de estímulos contextuais que deem respostas positivas ao processo de formação do indivíduo, tomando como foco as relações intrínsecas entre atenção, funções motoras, linguagem, memória, cognição e aspectos emocionais, psicológicos e cerebrais. Ela busca ainda, compreender o processo cognitivo do sujeito aprendente, desde os primeiros anos de vida, seus impasses e as principais implicações na aprendizagem humana. (LIMA, 2017, p.80)

 

Sendo assim, a neuropsicopedagogia como campo de estudos busca promover cada vez mais conhecimentos que proporcionem a inclusão de sujeitos com deficiência, distúrbios ou transtornos, não só no âmbito escolar, mas na sociedade como um todo.

 

Nesta atual conjuntura o neuropsicopedagogo é de grande importância, pois, está assegurando as perspectivas inferidas em lei trabalha no cerne cognitivo, no desejo e na vontade de aprender melhorando e ampliando habilidades e talentos latentes, desenvolve o atendimento e avaliação que objetivam identificar as dificuldades que

estão prejudicando o aprendizado fluindo sem entraves, oferecendo ferramentas de auto-superação cognitiva, intelectual e emocional contribuindo com a crescente autoconfiança e motivação para o aprendizado. (BORGES, 2016, p.08)

 

A neuropsicopedagogia tem sua relação com educação Inclusiva, pois proporciona atendimento e avaliação, melhoramento e superação de dificuldades cognitivas, intelectuais e emocionais no processo de aprender e ensinar na educação inclusiva.

Entende-se que os profissionais da neuropsicopedagogia devem estar incluídos nos quadros profissionais da escola inclusiva para que atuem em prol de educação justa e não discriminatória, em que Hennemann informa:

 

Segundo Beauclair (2014), os especialistas em Neuropsicopedagogia são instruídos para: compreender o papel do cérebro nas relações complexas dos neurocognitivos e a sua inserção na aplicação de estratégias em diversos âmbitos sociais; na intervenção do desenvolvimento humano do sujeito aprendente; Ampliar na capacidade de intervir em novos produtos educacionais e construir alternativas para o melhor desenvolvimento do assistido. (2014, p.7)

 

Assim, pode-se afirmar que a neuropsicopedagogia pode contribuir efetivamente em ações que promovam práticas inclusivas no ambiente escolar, estabelecendo uma escola desprovida de preconceitos.

 

5. CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOPEDAGOGIA PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA.

A presente discussão está pautada no parecer técnico-profissional da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) nota técnica nº 01 do ano de 2016.

O documento apresenta as principais contribuições que o profissional da neuropsicopedagogia pode trazer para a educação e, especialmente, a educação inclusiva.

 

A atuação do Neuropsicopedagogo tem o objetivo de promover uma educação de qualidade, com foco no trabalho efetivo da Educação Inclusiva, bem como o atendimento prioritário às crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem. A função do Neuropsicopedagogo Institucional da Educação Especial, junto à Equipe Técnica das Escolas atende a demandas relacionadas aos processos de aprendizagem no âmbito da coletividade, entretanto com possibilidade de tratar particularidades relacionadas à construção do conhecimento científico-acadêmico, com o intuito de promover o desenvolvimento sócio-pessoal e educacional de todos os alunos que possuem dificuldades. (SBNPp, 2016, p.02)

 

Dessa forma, de acordo com o parecer técnico mencionado, a neuropsicopedagogia pode ser dividida em dois ramos: a neuropsicopedagogia institucional e a neuropsicopedagogia clínica.

A atuação do neuropsicopedagogo clínico se faz em instituições de ensino ou áreas empresariais que necessitam do profissional, onde temos as atribuições destes profissionais como as seguintes:

 

I) Identificação Precoce:

a) Realizar investigação a partir de queixas advindas dos professores ou Equipe Técnica da Escola, executando observações direcionadas, pautados em instrumentos próprios do Neuropsicopedagogo da Educação Especial Inclusiva e/ou que estejam de acordo com as diretrizes da do Código de Ética Técnico-Profissional - 03/2014 - SBNPp;

b) Sondagem/triagem acadêmica no âmbito coletivo através de materiais e instrumentos próprios desta nova ciência ou outros que são abertos a diferentes profissionais, contudo devem ser embasados teoricamente e com padronização brasileira;

c) Direcionar a identificação precoce as funções cognitivas, atenção, memória de trabalho, linguagem (recepção/expressão), compreensão

(interpretação/intelecção), linguagem matemática, observação psicomotora, habilidades sociais, planejamento e resolução de problemas.

II) Planejamento e Intervenção:

a) A partir de dados e realidades identificados, elaborar um plano de intervenção junto de pequenos grupos, em classes inteiras, ou individualmente, em casos específicos, estabelecendo metas inicias, intermediárias e finais;

b) Utilizar a metodologia de projetos de trabalho e oficinas temáticas,

oportunizando que os alunos desenvolvam diferentes habilidades conforme suas individualidades, respeitando a cada um, promovendo a

inclusão através da ação do neuropsicopedagogo;

c) Trabalhar com orientação de pais e professores embasados nos conhecimentos sobre o processo de aprendizagem e suas dificuldades, conforme dados obtidos no processo de identificação precoce em grupos e crianças;

d) Emitir parecer neuropsicopedagógico com bases institucionais, indicando como devemos tratar a individualidade nos processos de aprendizagem, bem como questões coletivas, assegurando o processo de inclusão, levando ao conhecimento da Equipe Técnica da Escola (professores, coordenadores, atendimento educacional especializado entre outros);

e) Encaminhamento de crianças a profissionais de área específica, quando necessário. (SBNPp, 2016, p. 4)

           

Nas intervenções do psicopedagogo institucional identificamos que estão a verificar as funções e disfunções cerebrais junto aos estudos do processo psicognitivos.

São os estudos que a neuropsicopedagogia busca reunir e integrar em seus sistemas explicativos e de intervenção para o melhoramento do aprendizado dos indivíduos.

Já neuropsicopedagogia clínica é desenvolvida em ambiente particular, ou seja, espaço adequado de atendimento individualizado ou em sessões, em que o que concerne as contribuições do ramo na educação inclusiva, tem-se:

 

I) Investigação Inicial:

a) Investigar e analisar os relatos e queixas advindas dos contextos específicos, realizando anamnese, entrevistas, coletas de dados a partir

de observações para posterior análise;

b) Estabelecer hipóteses para traçar o planejamento da intervenção neuropsicopedagógica, devidamente embasado em conhecimentos

técnicos-científicos;

c) Selecionar atividades para testar as hipóteses através das intervenções direcionadas, que devem ser seguidas de análises que podem ou não confirmá-las.

II) Planejamento e Intervenção:

a) Após identificação e confirmação das dificuldades a serem trabalhadas, planejar a intervenção conforme protocolo específico de atendimento, utilizando instrumentos validados e aplicados em população brasileira, de acordo com a faixa etária;

b) Elaborar um plano de trabalho estabelecendo metas iniciais, intermediárias e finais para avaliar continuamente os avanços durante a intervenção;

c) Organizar registros dos atendimentos visando acompanhamento adequado a cada caso tratado.

III) Encaminhamentos e/ou resultados:

a) Elaboração de parecer ou laudo descritivo neuropsicopedagógico indicando as características e os resultados do trabalho, avanços ou novas necessidades detectadas e que precisam ser encaminhadas ou novamente trabalhadas;

b) Realizar encaminhamento a outros profissionais, visando o trabalho em equipe multiprofissional tratando cada pessoa atendida como pessoa com características específicas, mas com necessidades diversificadas;

c) Indicar a finalização do trabalho evidenciando a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas, emitindo um parecer neuropsicopedagógico. (SBNPp, 2016, p.05)

 

As contribuições das áreas de neuropsicopedagogia na educação inclusiva podemos afirmar que: promovem diagnósticos sobre deficiências, distúrbios e transtornos no sentido de promover práticas melhores para o desenvolvimento adequado aos indivíduos.

Além disso, planeja ações e busca prevenir todo e qualquer ato de discriminação nas ações de ensinar e aprender, outrossim, intervém na prática da aprendizagem adaptando materiais e recursos didáticos que promovam as múltiplas formas de aprender.

 

[...] a neuroeducação pode oferecer para os processos de ensino-aprendizagem, não como uma forma mágica de acabar com todos os problemas relacionados a educação, mas como uma ferramenta útil que traga o embasamento teórico-científico que possa melhorar o aprendizado, assim como, estimular de forma adequada e diferenciada as potencialidades da criança que cada dia se transforma dentro da modernidade a qual está inserida. (SANTOS; SOUSA, 2016, p.2)

           

A neuropsicopedagogia deve ser vista como promotora de melhora no aprendizado, a partir, de práticas que estimulem de maneira adequada e consequente, além de diferenciada as potencialidades dos educandos.

Assim sendo, compreende-se que a neuropsicopedagogia pode e deve estar ligada com educação inclusiva, pois promove melhoramento nas práticas do aprender.

O profissional da neuropsicopedagogia deve manter diálogo constante com pedagogos, psicopedagogos, professores e alunos.

Para que esse casamento entre neuropsicopedagogia e educação inclusiva possa dar certo, é preciso enfatizar o ato do aprender democrático e, com isso, promover a inclusão educacional.

 

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Na presente pesquisa, apresentou-se os conceitos de neuropsicopedagogia e educação inclusiva, em que se percebeu que ambas buscam promover um aprendizado que valorize a diversidade dos indivíduos, sem discriminação qualquer.

A neuropsicopedagogia como ciência multidisciplinar é de extrema relevância para a educação no mundo globalizado, permite que possamos conhecer as várias formas como a humanidade podem aprender, principalmente, com a compreensão do processo de aprendizado.

Percebemos que a educação inclusiva e a neuropsicopedagogia devem ser integradas para construção da justiça social e da democracia do aprender, sem segregação ou exclusão.

A neuropsicopedagogia é um campo novo de estudos que está aberto a construção do conhecimento, e consequentemente, pode contribuir com a eficácia da educação inclusiva, possibilitando o ato de aprender a todos, respeitando os ritmos e formas próprias de aprender de cada indivíduo.

 

7. REFERÊNCIAS.

BORGES, Ângela Maria Rodrigues. Como a neuropsicologia aperfeiçoa a aprendizagem na educação especial em Marabá. In: Congresso paraense de Educação Especial, III., 2016, p.01-16. Disponível em: <https://cpee.unifesspa.edu.br/images/Anais_2016/Relatos_de_experiencia/Angela_Maria_Rodrigues.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2018.

FLORIANI, Marlei Adriana Beyer. Educação Inclusiva. Indaial: UNIASSELVI, 2017.

FONSECA, VITOR. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. In: Revista Psicopedagogia, Portugal,31(96): 2014, p.236-53. Disponível em: http:// <www.revistapsicopedagogia.com.br/exportar-pdf/62/v31n96a02.pdf>. Acesso em 15 jun. 2018.




segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Reaproveitamento de alimentos prontos em restaurantes por quilo.

 FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 1, Série 25/01, 2021.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos

Doutor em Ciências Humanas - USP

MBA em Gestão de Pessoas - UNIA
Licenciado em História - CEUCLAR
Licenciado em Filosofia - FE/USP
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP

Orientador e líder do projeto


Autores: Anna Paula Lopes, Erica Lonson Schuab, Jessica Woloszin Pereira, Luciana Rodrigues Aloise Ferreira, Rafael DisciolliI Souza, Roberta Estefani Assunção.

 

RESUMO: Segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), no Brasil, 40 mil toneladas de alimentos são jogados no lixo diariamente, o que daria para alimentar 19 milhões de pessoas. Apesar desse número assustador, a Legislação Brasileira não permite que os restaurantes doem os alimentos preparados que sobram às pessoas carentes de recursos, causando um grande desperdício. Este estudo visa propor alternativas apropriadas para reaproveitamento de alimentos coccionados, uma que vez que é vedada sua distribuição gratuita, para reduzir a quantidade de alimentos que vão para o lixo e orientar quanto ao gerenciamento adequado em restaurantes que servem comida por quilo. A diminuição do desperdício, foi estudada pensando em uma forma de usar sobras de alimentos já preparados, para a confecção de outros pratos em restaurantes, analisando o seu funcionamento para, assim, criar uma cartilha que orientará os estabelecimentos quanto ao preparo de pratos elaborados a partir destas sobras. Utilizou-se o método descritivo, pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo para elaboração e fundamentação da investigação.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentos Coccionados, Lixo Limpo, Reaproveitamento, Diminuição do Desperdício.

 

ABSTRACT: According to a survey carried out by the Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA), in Brazil, 40 thousand tons of food are not thrown away every day, which would feed 19 million people. Despite this issue, Brazilian legislation does not allow restaurants to donate the prepared food that is left over to people in need of resources, causing a great deal of waste. This study aims at appropriate proportions for reusing cooked food, since its free distribution is prohibited, to reduce the amount of food that goes to waste and to provide guidance on proper management in restaurants that serve food by the kilo. Regarding the reduction of waste, it was studied thinking about a way to use leftovers from already prepared food, for the preparation of other dishes in restaurants, analyzing its operation to, thus, create a booklet that will guide the equipment in the preparation of dishes prepared from of those leftovers. The descriptive method, bibliographic research and field research were used to elaborate and substantiate the investigation.

KEYWORDS: Cooked Foods; Clean Garbage; Reuse; Decrease in Waste



1. INTRODUÇÃO.

Este estudo prioriza encontrar meios de reaproveitamento de alimentos prontos, em restaurante por quilo, que foram preparados, mas não foram para o prato do cliente.

Esses alimentos são definidos pela Portaria do Centro de Vigilância Sanitária, como “sobras”.

Analisando o grande número de desperdício de alimentos no Brasil, pode-se ver quão grande é o impacto na sociedade e meio ambiente.

As perdas ocorrem desde o momento da colheita até o momento do consumo final.

A solução é complexa e incide justamente em uma ação integrada com todos os atores da cadeia produtiva, havendo a necessidade de aproveitamento integral dos alimentos e manutenção do consumo habitual, utilizando as sobras para criação de outros produtos alimentícios.

Atualmente, no Brasil, milhares de pessoas vivem em situação de miséria sem ter o que comer, pesquisa realizada pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), aponta que no Brasil 40 mil toneladas de alimentos são jogadas no lixo diariamente, o que daria para alimentar 19 milhões de pessoas.

Em 2013 a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) registrou um desperdício mundial de alimentos de 3.561,643kg por dia, o equivalente a 2.473kg por minuto.  

No entanto, várias medidas poderiam ser apresentadas para o reaproveitamento de alimentos que não utilizados, tais como: sementes, folhas, talos.

Porém, dificilmente são encontradas orientações quanto ao reuso dos alimentos já preparados para consumo não utilizados, ou seja, as sobras.

Portanto, pretende-se apresentar soluções para o reaproveitamento dessas sobras, direcionado principalmente para a criação de atitudes voltadas para a reciclagem de resíduos sólidos e desenvolvimento da gestão sustentável em restaurantes, diminuindo o desperdício e reaproveitando os alimentos para a criação de novos pratos.

Isto, respeitando o que rege a Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013, que regula sobre boas práticas para estabelecimentos comerciais de alimentos, do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo.

O artigo 7º, inciso XLI, da referida legislação, visando proteger a saúde da população, define o termo “sobras de alimentos”, como: “o alimento que não foi distribuído e que foi conservado adequadamente, quando se tratar de alimento pronto para o consumo”.

Neste sentido, deve-se deixar bem clara a definição de “sobras” de alimentos, para que não haja confusão com “restos”.

“Sobras” são os alimentos produzidos e não distribuídos, enquanto “restos” são os alimentos devolvidos dos pratos, pelo cliente.

Sendo assim, com amparo na lei, serão estudadas quais sobras de alimentos podem ser reutilizadas para confecção de novos pratos, bem como seu modo de armazenamento e conservação, com o objetivo de elaborar uma cartilha com dicas e receitas.


2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO.

Realizamos visita a um estabelecimento de pequeno porte do setor de restaurantes na cidade de São Vicente, Estado de São Paulo, mantido aqui incógnito por uma questão ética, nomeado genericamente como “Buteco”. 

Fomos recebidos pela proprietária do estabelecimento, que mostrou o espaço do salão e a cozinha.

O estabelecimento atende em média 150 pessoas para o almoço. 

Funciona como restaurante por quilo de segunda-feira a sexta-feira, o almoço é servido das 11h:30 às 15h, aos sábados o horário é estendido até às 16h.

No período noturno, funciona das 18h às 1h, atendendo como bar, com festival de petiscos de boteco, sopas e caldos. 

O estabelecimento é conhecido também por ter variações de cervejas importadas, nacionais e da sua própria fabricação.

O ambiente é rústico, acolhedor, aconchegante, com um toque de sofisticação, lembra uma casa de fazenda, parece que cada detalhe foi pensado para dar essa atmosfera, como mostra a Figura 1. 

O restaurante está em funcionamento desde 2014, possui um quadro de funcionários enxuto, como na Figura 2.


Figura 1 – Ambientes do estabelecimento.

Figura 2 – Organograma do Bar e Restaurante.

Na cozinha o estabelecimento utiliza ficha técnica para manter o padrão e evitar que haja sobras.

Quando isso ocorre elas são transformadas em petiscos, uma vez que todo o processo de conservação dos alimentos, manipulação e conservação dos alimentos já coccionados são respeitados de acordo com as normas da ANVISA.


3. OBJETIVO E METODOLOGIA.

Para a elaboração da pesquisa utilizamos o método descritivo, usando pesquisas bibliográficas para fundamentação dos assuntos abordados e do procedimento de campo de levantamento de dados.

A elaboração do relatório foi realizada de acordo com a normatização da ABNT (Associação Brasileira de normas Técnicas), conforme preconizado pela NBR (Norma Brasileira Regulamentadora) 6023.

A partir da exploração de campo em restaurantes do segmento de comida por quilo, selecionamos um empreendimento para fazer o levantamento das informações necessárias, tais como: a perda de insumos no pré-preparo, os problemas ocorridos com a má armazenagem de alimentos e o desperdício ocorrido com a falta de planejamento correto do cardápio.

As informações obtidas embasaram a pesquisa das melhores alternativas para diminuição do desperdício e possíveis formas de reaproveitamento de alimentos coccionados (preparados/cozidos).

A metodologia embasou medidas práticas para uma boa gestão, dentro da cozinha como o uso de fichas técnicas, indispensável para o planejamento do cardápio e identificação dos dias de maiores e menores fluxos de clientes, para uma previsão mais correta da quantidade de alimentos a serem preparados.

Tendo como orientação o sistema de APPCC (manual de boas práticas utilizado para garantir a qualidade dos alimentos), buscamos os meios adequados para a utilização das sobras limpas de alimentos, na recriação de um novo prato.

E a partir destas análises, elaboramos uma cartilha de reaproveitamento de compostos orgânicos limpos (alimentos coccionados, preparados, cozidos), para que seja distribuída em restaurantes deste segmento, a fim de conscientizar os proprietários para a diminuição da perda de alimentos e as opções possíveis de destinação paro o uso destes alimentos na reinvenção do cardápio.

O objeto de estudo de caso foi um estabelecimento de pequeno porte do setor de restaurantes na cidade de São Vicente, Estado de São Paulo, mantido aqui incógnito por uma questão ética, nomeado genericamente como “Buteco”.

Inaugurado em 2014, tem como especialidade a comida caseira mineira, funcionando de domingo a domingo, serve no período do almoço comida por quilo e, no jantar, o serviço é à la carte, totalizando uma média de 150 refeições servidas ao longo do dia.

A pesquisa de campo constatou diversos pontos positivos presentes na gestão do “Buteco”, a começar pelos proprietários que atuam também como cozinheiros, buscando melhorar seus conhecimentos através de uma formação superior em Gastronomia.

Utilizam fichas técnicas e trabalham com o porcionamento de ingredientes, sendo quase nulo o desperdício de matéria e, no caso sobra, esta é armazenada corretamente, ficando reservada à alimentação dos funcionários do próximo turno.

As observações mostraram a importância de um simples planejamento, algo que deveria ser seguido por todos os empreendimentos do segmento, mas que na prática do dia-a-dia não acontece.

Após o levantamento desses dados passamos a investigar a segurança alimentar, os processos de armazenagem e as melhores formas de reutilização desses ingredientes combinados com outros, na recriação de um novo prato.

Empregando nossos conhecimentos, colocamos em prática nossos objetivos na realização de testes, em laboratório de gastronomia de uma grande universidade privada localizada na cidade de Santos (Estado de São Paulo), com as receitas pesquisadas.

Os resultados obtidos se mostraram positivos, posteriormente foram utilizados para a apresentação da proposta ao público, com oferecimento de degustação, feita com as receitas desenvolvidas.


4. ANÁLISE DOS RESULTADOS.

No decorrer da pesquisa, apuramos que o maior desperdício ocorre desde que o alimento sai do produtor até o momento que chega às prateleiras dos supermercados.

As principais razões dessas perdas são atribuídas à falta de pessoal habilitado, desconhecimento de técnicas de seleção de sementes, erros no preparo de solo, técnicas inadequadas de manuseio, falha ou ausência de tratamento de pragas, moléstias durante as fases pré e pós-colheita, desconhecimento do ponto ideal de colheita para alguns frutos, uso de tecnologias inadequadas de colheita, armazenamento, embalagem e transporte.

 A Tabela 1 mostra as perdas pós-colheita de frutos e hortaliças em porcentagem.

O objetivo deste estudo é evitar o desperdício e gerar mais lucro ao estabelecimento, transformando as sobras em outros pratos, ao invés de jogá-las no lixo.

Para que isso aconteça, algumas atitudes importantes que influenciam na qualidade do produto final devem ser tomadas.

A primeira delas é realizar a higienização adequada do ambiente de trabalho e dos alimentos ainda “in natura”, bem como seu correto armazenamento, para garantir que as sobras reaproveitadas cheguem ao prato do cliente de uma forma segura para o consumo.

Os manipuladores também devem se apresentar adequadamente para a realização dos trabalhos, evitando contaminação dos alimentos.

Em visitas realizadas ao estabelecimento não foram apuradas irregularidades no que diz respeito aos móveis superfícies, instalações, equipamentos utensílios. 

Os produtos de limpeza utilizados possuem registro no Ministério da Saúde e a frequência de limpeza é adequada.

Em relação aos manipuladores, foram observados aspectos de apresentação, higiene pessoal e procedimentos higiênicos corretos durante a manipulação, bem como a existência de programa de controle de saúde.

Foram encontradas orientações para técnica correta de higienização de mãos e uso de adornos.

O armazenamento de alimentos em temperatura ambiente e temperatura controlada são bem executados, principalmente quanto à identificação correta dos produtos e a disposição dos mesmos, de forma a evitar risco de contaminação cruzada.

O estabelecimento informou que é feita medição de qualidade para aprovação de fornecedor.

As embalagens externas de papelão ou madeira são descartadas de imediato, uma vez que apresentam risco de contaminação e esconderijo de pragas.

A manipulação, produção e preparo de alimentos envolvendo cocção/reaquecimento, resfriamento e espera/manutenção, são regidos pela Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013.

Para o aspecto “recolhimento de amostras”, existe a precaução de coletar amostrar de tudo o que é produzido no dia.

O estabelecimento possui uma cópia do Manual de Boas Práticas, a existência do manual de BP é preconizada na RDC 216/MS e os serviços de alimentação devem dispor do mesmo para descrever suas instalações e procedimentos na produção de alimentos (Brasil, 2004).

Quanto aos critérios para a utilização correta das sobras de alimentos, foi analisado que o estabelecimento reutiliza apenas os alimentos que não foram distribuídos e que foram monitorados durante sua manutenção.

Como o restaurante serve almoço de dia, e petiscos à noite, conseguem reaproveitar adequadamente alguns insumos que não foram utilizados no almoço, transformando-os em porções para serem servidas à noite.

Baseado nestes dados, idealizamos um cardápio para reutilizar os alimentos que até então eram dispensados e, assim, foi confeccionada uma cartilha ilustrada com algumas receitas saborosas e fáceis de preparar, utilizando as sobras.

Logo, os alimentos que sobraram do almoço, poderão ser usados em outras preparações, surgindo novas receitas para serem servidas à noite, como: transformar o arroz em bolinho de arroz; o feijão em bolinho de tutu de feijão; a alface em bolo de alface e maçã; e o peixe ou o frango em croquete.

 

A. Conservação dos alimentos.

Para que possa haver um reaproveitamento correto dos alimentos prontos, alguns cuidados devem ser tomados desde o momento em que o insumo chega ao estabelecimento, ainda cru, onde é armazenado em estoque seco ou refrigerado.

Passando pelo preparo (cocção adequada para cada tipo de alimento) que é realizado pelos manipuladores, é devidamente porcionado, levado ao balcão para servir aos clientes e parte do que foi porcionado é etiquetado e mantido em refrigeração. 

O cuidado começa já na hora da entrega do fornecedor para o estabelecimento, que deve verificar as condições dos alimentos, data de validade, condições de conservação e medir a temperatura.

Depois deve-se conferir se as embalagens não foram violadas, verificar se a quantidade recebida confere com a descrita na nota e principalmente a qualidade dos produtos, o estabelecimento somente pode receber alimentos que estejam em ótimas condições de conservação.

Após analisado os insumos recebidos, devem ser armazenados de forma a impedir a contaminação e/ou a proliferação de microrganismos.

O local de armazenamento deve ser limpo, sendo os alimentos mantidos separados por tipo ou grupo, sobre estrados distantes do piso, ou sobre paletes, bem conservados e limpos ou sobre outro sistema aprovado.

Estes insumos devem ser mantidos afastados das paredes e distantes do teto de forma a permitir apropriada higienização, iluminação e circulação de ar, respeitando o empilhamento máximo, utilizar o método PVPS, mantendo a etiqueta de prazo de validade visível.

 

B. Manipulação dos alimentos.

A Resolução-RDC nº216, de 15 de setembro de 2004, dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias dos alimentos preparados.

Assim, além do correto armazenamento dos materiais, outros cuidados também devem ser tomados.

O local de preparo dos alimentos precisa ser limpo e organizado e, antes de manipulados, mesmo que ainda in natura, o profissional deve higienizar corretamente as mãos, assim como rege o regulamento citado.

Antes do preparo, o alimento também deve ser higienizado.

As carnes cruas e os vegetais não lavados apresentam micróbios patogênicos que podem ser transferidos aos alimentos prontos por meio das mãos dos manipuladores.

Deve-se cozinhar muito bem os alimentos até que atinja a temperatura mínima de 70 graus Celsius, ou mais, pois os micróbios somente são destruídos com altas temperaturas.

 

C. Conservação de alimentos já coccionados.

Após a cocção, os alimentos merecem cuidados especiais, principalmente se o objetivo do restaurante for utilizar as sobras (alimentos preparados porém não consumidos) para utilizá-los na confecção de novos pratos.

Os micróbios se multiplicam rapidamente e em números elevados se o alimento coccionado não estiver armazenado na temperatura adequada.

Temperaturas entre 5º e 60ºC, conhecida como zona de perigo, são as mais favoráveis para que ocorra essa multiplicação.

Daí a importância do balcão de self-service para os alimentos expostos para o consumo imediato.

De acordo com a Vigilância Sanitária, devem ser obedecidos alguns critérios de tempos x temperaturas, para esses alimentos expostos, sendo que os alimentos que não forem mantidos de acordo com tais critérios deverão ser desprezados.

A Tabela 2 indica o tempo de exposição por temperatura.

O ideal é que a água do balcão térmico seja trocada diariamente e mantida a temperatura de 80 a 90ºC, durante o tempo de distribuição.

Havendo supervisão desta temperatura, os alimentos que sobraram e não ultrapassaram o tempo máximo de 2 horas em exposição no balcão, poderão retornar à cozinha para serem reutilizados em outra receita, contanto que não tenham ficado em temperatura ambiente por mais de duas horas.


Caso sejam resfriados, deverão obedecer aos seguintes critérios de resfriamento em geladeira, com temperatura abaixo de 5ºC para reutilização:

- Carnes cozidas: máximo 2 dias;

- Arroz cozido: máximo 3 dias;

- Feijão: máximo 3 dias.

 

Os critérios de resfriamento são regidos pela Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013, que diz:

 “O processo de resfriamento de um alimento preparado deve ser realizado de forma a minimizar o risco de contaminação cruzada e a permanência do mesmo em temperaturas que favoreçam a multiplicação microbiana [...]”

 

A cartilha foi confeccionada com o objetivo de mostrar de forma clara, didática e objetiva o que deve ser feito para manter a qualidade dos alimentos para permitir sua utilização em novas e saborosas receitas.


5. CONCLUSÃO.

A pesquisa de campo abordou o tema reaproveitamento de alimentos prontos em restaurantes por quilo, onde se buscou conscientizar os proprietários de restaurantes sobre em quais condições e como podem ser reaproveitados alimentos, visando à diminuição do lixo orgânico.

Entendemos que com uma cartilha voltada para esse tema é possível ajudar as pessoas de uma forma didática, objetiva e assertiva. 

Nesse estudo buscamos opções de receitas que podem facilmente ser acrescentadas no cardápio de qualquer restaurante. 

São receitas fáceis, aproveitando-se do alimento já coccionado e transformando-o em um novo produto, ajudando a reduzir o desperdício, evitando a perda de dinheiro e consequentemente gerando lucro para o dono do estabelecimento, sendo assim a forma apropriada de reutilizar os alimentos.

Tendo em vista tudo o que foi apresentado, concluímos que o desperdício de alimentos pode ser gradativamente diminuído desde que as normas da ANVISA sejam respeitadas, podendo ser produzidas receitas deliciosas e até saudáveis com as “sobras limpas”.


6. REFERÊNCIAS.

AKATU. 1/3 de tudo que você compra vai direto para o lixo. Disponível em: http://www.akatu.org.br/Institucional/Campanhas/Detalhes/13-de-tudo-que-voce-compra-vai-direto-para-o-lixo Acesso em: 28/04/2015

AUTRAN, Paula. “Estudo feito em dez restaurantes propõe redução do desperdício. Dados foram levantados para projeto piloto da UNESP, braço de meio ambiente da ONU”. O Globo. Rio de janeiro. 07/05/2014. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/estudo-feito-em-dez-restaurantes-propoe-reducao-do-desperdicio-12404533#ixzz3UUor2XjX Acesso em: 08/03/2015.

CAMARGO, Suzana. Fim do desperdício de alimentos: conheça a história do pay as you feel café. Disponível em: http://www.thinkeatsave.org/po/index.php?option=com_content&view=article&id=297 Acesso em: 13/05/2015.

FIGUEIREDO, Roberto Martins. As armadilhas de uma cozinha. São Paulo: Monole, 2003.

GERMANO, Maria Izabel Simões. Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos qualidade das matérias primas doenças transmitidas por alimentos treinamento de recursos humanos. São Paulo. Manole, 2011.

GRANT, Doris. A combinação dos alimentos. 2006.

MEZOMO, Iracema F. de Barros. Os serviços de alimentação: planejamento e administração. São Paulo: Monole, 2002.

NASCIMENTO NETO, Fénelon do. Roteiro para elaboração de manual de boas práticas de fabricação (BPF) em restaurantes. São Paulo: SENAC, Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos, 2005.

ONU. http://www.thinkeatsave.org/po/ Acesso em: 09/05/2015

PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2008

POWERS, Tom. Administração no setor de hospitalidade: turismo, hotelaria, restaurante. São Paulo: Atlas. 2004.

PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS. Secretaria Municipal de Eduçação. Aproveitamento Integral dos alimentos. Vol. II Disponível em: http://issuu.com/administracaoeadprojetos/docs/aproveitamento_integral_dos_aliment/1 Acesso em: 09/03/2015

RABELO, Tânia. ONU lança site sobre desperdício de alimentos em português. Portal Orgânico. 14 jan. 2014. Disponível em: http://www.portalorganico.com.br/noticia/220/onu-lanca-site-sobre-desperdicio-de-alimentos-em-portugues Acesso em: 08/05/2015.

REY, Ana M.; A. Alejandro. Manual de Higiene Alimentar. São Paulo. Editora Varela. 2009.

REY, Ana M.; Silvestre Alejandro. As doenças transmitidas por Alimentos. São Paulo. Editora Varela. 2009.

SEBESS, Mariana. Técnicas de cozinha profissional. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2008.

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE CONTROLE DE DOENÇAS CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Divisão de Produtos Relacionados à Saúde - Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013. Disponível em: http://www.cvs.saude.sp.gov.br/up/PORTARIA%20CVS-5_090413.pdf Acesso em: 03/04/2015.

SESC. Cartilhas Educativas do Programa Mesa Brasil. Rio de Janeiro: SESC/DN. 2003. Disponível em: http://www.sesc.com.br/mesabrasil/cartilhas.html Acesso em: 09/03/2015

SILVA JÚNIOR, Eneo Alves da. Manual de controle higiênico-sanitário em serviços de alimentação. São Paulo: varela, 2008.

SISTI, Tatiana. Reaproveite as sobras do dia anterior: veja dicas de chefs. Disponível em: http://culinaria.terra.com.br/reaproveite-as-sobras-do-dia-anterior-veja-dicas-de-chefs,f6689b5933237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html Acesso em: 08/03/2015.

SOARES, Antônio G. Desperdício de Alimentos no Brasil: um desafio político e social a ser vencido.  Disponível em: http://www.ctaa.embrapa.br/upload/publicacao/art-182.pdf Acesso em: 29/04/2015.

WOLKE, Robert L. O que Einsteins disse a seu cozinheiro: a ciência na cozinha. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.


7. ANEXO: Cartilha apresentando soluções para o reaproveitamento de sobras de alimentos em restaurantes.