quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Protótipo de Célula de Marcação e Manipulação de peças plásticas.

FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 10, Série 13/10, 2021.


Professores da FAPEN do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial.

Orientadores do Projeto.

Claudenir Tersetti, Marcos Fernandes de Souza, Solange Damaceno,
Thiago Abraao dos Anjos da Silva, Vander Lunardelli, Vlamir Belfante.


Alunos da FAPEN do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial.

Autores do Projeto.

Aldo Dams, Diego Wesley, Eduardo Fernando Gomes, Genilton da Silva Carvalho, Pedro Henrique Gomes Santana,

Rodrigo Fernandes da Silva, Vilson Alves de Souza.


RESUMO: O Protótipo de célula de marcação e manipulação de peças plásticas é um projeto com o intuito de demonstrar o processo de marcação através de uma fresa em pequenas peças plásticas. A máquina é equipada com dois motores de 12 Vcc responsáveis pelo funcionamento de suas mesas rolantes, que se locomovem em X e Y. Além disso, também conta com um braço articulado responsável por locomover a peça plástica que será gabaritada até a mesa rolante, este braço utiliza uma válvula comutadora, que é responsável por permitir a vazão do fluido sob pressão por diferentes vias. A peça é apanhada através de um pistão pneumático equipado com uma ventosa responsável por pegar o objeto e transportá-lo de A até B. Depois de feita a marcação, a mesa rolante se locomove novamente ao seu ponto de partida até que chegue a uma distância razoável para que o braço pegue novamente o objeto e o leve ao ponto de partida, que é seguro para que alguém o possa pegá-lo.

PALAVRAS-CHAVE: Máquina, Braço, Funcionamento.

 

ABSTRACT: The Prototype Plastic Marking and Handling Cell is a design to demonstrate the marking process by milling small plastic parts. The machine is equipped with two 12 Vdc motors responsible for running its moving tables, which move in X and Y. In addition, it also has an articulated arm responsible for moving the plastic part that will be molded to the treadmill; this arm uses a switch valve, which is responsible for allowing the flow of fluid under pressure by different routes. The part is picked up by a pneumatic piston equipped with a suction cup responsible for taking the object and transporting it from A to B. After marking, the treadmill moves back to its starting point until it reaches a distance. It is reasonable for the arm to pick up the object again and take it to the starting point, which is safe for anyone to pick up.

KEYWORDS: Machine, Arm, Working.

 

1. INTRODUÇÃO.

Para aumentar a produtividade e a qualidade dos serviços e produtos, começaram a estudar investir e aplicar, em um conceito, chamado célula de produção. Um exemplo histórico da produção celular foi no início do século XX, onde Henry Ford aplicou esse conceito, nas linhas de montagem do Ford T. (NERIS E SILVA, 2014, p2).

Com um braço articulado e uma mesa de dois eixos, é posicionado manualmente peças em formato de cubo ou paralelepípedo em ponto fixo fora da mesa para que o braço articulado possa coletar e transportar o mesmo até o ponto zero do sistema de marcação.

Após essa ação de pick and place a mesa trabalhará em X e Y para levar a peça até uma ponta metálica que fará marcações em baixo relevo simulando um processo de identificação para rastreabilidade.

Esse sistema será integrado utilizando motores de 12Vcc para mesa, fins de curso mecânico para status de posição e presença, botões para acionamento e um CLP Rockwell Micrologix 1000 (ROCKWELL AUTOMARION, 2021).

Uma fresadora é categorizada como vertical e horizontal.

Existem muitas tarefas que uma máquina de fresagem pode executar como moldar, perfurar e rotear entre outros.

Embora esta máquina seja mais comumente usada para moldar metais, outros materiais sólidos também podem ser moldados.

Na fabricação, uma das máquinas-ferramentas mais importantes é a fresadora.

“Basicamente, é usada na moldagem de materiais sólidos, especificamente metais. Mais do que qualquer outra coisa, a fresadora é usada na moldagem de superfícies planas e irregulares. Além desta função principal, a máquina de fresar também pode realizar outras tarefas, tais como perfuração, roteamento, planejamento, engrenagens de corte e produção de ranhuras entre outros” (MECÂNICA INDUSTRIAL, 2021).

 

2. DESCRIÇÃO DO PROTÓTIPO DESENVOLVIDO.

O protótipo de célula de manipulação e marcação de peças plásticas, é um projeto com inspiração sistemas robotizados, células de manipulação industrial.

A ideia de desenvolver um projeto que replica esses equipamentos, em dimensões aceitáveis para o ambiente estudantil de uma faculdade, surgiu após a apresentação de uma bancada com uma mesa móvel que estava disponível para melhorias.

Como o nosso projeto não dispunha de documentação mecânica em 3D e precisamos fazer as devidas indicações de instalação dos equipamentos, desenvolvemos um layout funcional, conforme figura 1.

Como a estrutura da bancada, assim como a mesa e seus elementos de apoio e movimentação, já estavam em estágio avançado, nós partimos para o desenvolvimento da parte elétrica do projeto, componente fundamente para o bom funcionamento da mesa de maneira automática.


Incluímos quatro sensores fins de curso nas quatro extremidades da mesa para termos os status de posições máxima, instalamos quatro válvulas pneumáticas, uma na base do braço, para que ele pudesse se movimentar em um ângulo de 90°, do ponto de “pega” do objeto até o ponto de “dispensa” na mesa móvel, uma segunda válvula para movimentar um cilindro instalado na extremidade do braço principal que por sua vez dispunha de uma ventosa que trabalha em conjunto com uma válvula geradora de vácuo que é o elemento responsável por mandar a peça estável durante o tempo de movimenta do braço e por um instalamos outra válvula em braço fixo aproximadamente no centro da mesa. Nesse braço também instalamos um pistão que é responsável por ele a ferramenta na altura certa para marcar a peça.

Aplicamos os nossos conhecimentos em desenvolvimentos de projetos elétrico junto de um software especialmente dedicado para desenvolvimento de documentações elétricas e pneumática, o software Eplan P8, para documentar as instalações que já estavam feitas na bancada, assim como os novos elementos que foram necessários incluir.

Fizemos todas as ligações elétricas necessárias, para que fosse possível realizar a programação do CLP.

Nos utilizamos uma CLP da Allen-Bradley, modelo Micrologix 1000, conforme figura 2, utilizamos a lógica de programação Ladder, umas das, se não a mais comum para esse tipo de programação.

Utilizamos o padrão de programa “linha a linha” mais conhecido como ladder,  uma forma simples de programar que é muito semelhante a conceitos de comando elétricos, como pode ser visualizado na figura 3.



3. METODOLOGIA DE PESQUISA.

Em agosto de 2019, o docente responsável, Vander Lunardeli, nos apresentou proposta de trabalhos que poderiam ser desenvolvidos, um deles era uma bancada com dois eixos de movimentação, desenvolvida pelo módulo de mecânica.

Feito a escolha da bancada, começamos a pesquisar equipamentos de referência.

As nossas referencias foram robôs industriais e células robotizadas.

Apesar da nossa proposta ser a manipulação de pequenas peças plásticas, o braço que faz a operação de “pick and place” faz referência a necessidade de empresar de cerâmica, por exemplo, que precisam manipular peças de grandes dimensões, e muitas vezes, com peso elevado.

O segundo braço, que pode suportar uma ferramenta de marcação, como uma fresadora, partiu da referência de células robotizadas de usinagem.

No nosso projeto, os braços não são articulados, o que nos fez buscar referência em mais um equipamento, que são as fresadoras que bancada, onde a ferramenta é um elemento fixo e uma “mesa móvel” conduz a peça por todo o processo de modelagem.

Analisando esses equipamentos, chegamos na conclusão de “replicá-los” no nosso protótipo.

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.

No primeiro semestre de 2019, iniciamos as atividades no projeto de uma banca que se movimenta em X e Y remanescente de semestres anteriores, projeto que posteriormente chamaríamos “Protótipo de Célula de Marcação e Manipulação de Peças Plásticas”.

Nesse semestre, o módulo de mecânica, fizemos um levantamento das necessidades de melhorias mecânicas que o equipamento precisaria.

De imediato verificamos que o conjunto mecânico dos motores estava em pleno funcionamento, mas com as engrenagens e correstes expostas, o que pela norma regulamentadora NR-12 não é permitido, visto que esse pode ser considerado um ponto de esmagamento de membros daqueles que possam vir a operar o equipamento.

Visto isso, providenciamos dois conjuntos de proteção em policarbonato transparente, para que esses elementos fossem protegidos e assim eliminamos esses pontos de risco de acidente.

Como já tínhamos planejado incluir nesse equipamento um braço que pudesse movimentar peças até a parte móvel da bancada, instalamos uma placa de madeirar na lateral esquerda da bancada original, como um “extensor”, para que esse braço pudesse ser instalado futuramente.

No semestre seguinte, o módulo de automação industrial, começo a fazer as avaliações necessárias para a automatização do sistema. Instalamos dois braços fixos, uma na extensão da bancada e outro no meio da região da mesa móvel, um cilindro em cada um dos braços e uma válvula simples solenoide para operar cada um desses cilindros, uma válvula simples solenoide na base do braço instalado na parte estendida da bancada, para que o braço que faz a pega da peça possa realizar um momento de ¼ de círculo (90°) do ponto de partida fixo até a mesa móvel.

No cilindro instalado no braço posicionado na extensão da bancada, instalamos uma ventosa associada a uma válvula geradora de vácuo para que a peça permaneça fixa durante o movimento de “pick and place”.

No cilindro instalado no braço que está na região móvel da bancada, instalamos um sistema que possa receber uma fresadora ou um marcador para realizar na peça a inscrição desejada. Instalamos 4 sensores fins de curso do tipo rolete com hastes nas exterminada da bancada móvel para que pudemos ter os status de posição dos equipamentos e assim acionarmos o modo reverso dos motores.

Ou seja, com as melhorias que fizemos nesse módulo, as marcações a serem feitas nas peças só poderiam ser executas com base nas distâncias de movimentação máxima da mesa, sem a possiblidade de um ajuste fino para medidas diferentes.

Para que todos esses equipamentos pudessem operar e ser controlador, desenvolvemos um novo painel para a nossa aplicação, isso porque o painel que todos nós desenvolvemos no primeiro módulo do curso tem como função operar um sistema genérico em partida direta.

Projetamos e montamos um painel com CLP para controle da nossa bancada com um CLP da Allen-Bradley, modelo Micrologix 100 para captação e tratamento dos sinais da peça.

Um CLP com limitação de 16 entradas e 8 saídas.

Com o painel montado, todos os elementos instalados e devidamente ligados, começamos a fazer as programações de adequações.

Nesse momento, identificamos um problema em um dos fusos da bancada, ele apresentava uma leve curvatura que por sua vez limitava a velocidade da mesa além de causar um esforço adicional no seu motor de operação.

O resultou na queima do motor sobrecarregado.

Visto que essa variação era pequena, mais o fato da sua troca implicar em gastos adicionais, naquele momento, que onerariam o nosso projeto, optamos por instalar na ponta do eixo do motor um espaçador, e colocar outro motor de “spare part” que tínhamos disponível para que a operação voltasse ao normal e o esforço no motor diminuísse para assim prosseguirmos com o desenvolvimento.

Feito essas adequações finalizamos as atividades desse semestre e apresentamos o nosso trabalho no Work Shop da Fapen, a última apresentação e modificação que trabalhamos.

No semestre seguinte, o quarto módulo do curso, tínhamos como premissas a correção definitiva com relação a curvatura do fuso, faríamos a troca da peça, a instalação de proteções de acrílico ou policarbonato entorno de toda a bancada, criando uma espécie de grade, de forma que apenas a região de entrada e saída de peça seria acessível por meio de uma pequena porta monitorador por um sensor.

Essas proteções nos possibilitariam iniciar uma adequação do projeto a NR-12, a norma que regulamenta a segurança no trabalho em máquinas e equipamentos.

Apesar do nosso protótipo não operar em capacidade de produção, onde acidentes de colisão e/ou esmagamento poderiam ser severamente danosos, mas por fazer alusão a um equipamento de produção, proteger as partes móveis do sistema e instalar equipamentos que nos permitam monitorar a operação e manuseio de peças no protótipo, como uma pequena porta de acesso com possibilidade de trava e monitorada por um sensor de segurança, é uma ação necessária.

Outra ideia de melhoria para o nosso projeto é a de monitorar a temperatura do fresador ou marcador a ser instalado na mesa juntamente de um sistema supervisório para monitoramento de todo o processo.

Essa melhoria consiste na instalação de um sensor de temperatura na região do marcador que fica em contato com a peça, associado a um controlador de temperatura, para monitorarmos se durante o regime de trabalho a ferramenta não excede o nível de temperatura aceitável.

Com isso tanto a ferramenta poderia ter a sua vida útil prolongada, quanto a peça não correria riscos de dano por falhas no processo.

Sendo assim, desenvolvemos um sistema supervisório com o software Elipse Scada que demonstra essa ideia, nesse momento apenas com a teoria do monitoramento de temperatura.

Contudo, as premissas para o primeiro semestre de 2020 não puderam ser realizadas, porque cerca de 5 semanas após o início das aulas, o acesso a faculdade, assim como ao nosso projeto, foi impossibilitado devido as restrições necessárias por conta da pandemia de COVID-19.

 

5. CONCLUSÃO.

Quando nos foi sugerido dar continuidade no projeto, tivemos que fazer manutenções tanto mecânicas quanto elétricas, para validar a viabilidade dos equipamentos.

Com o auxílio de todos os integrantes do grupo, materiais como ventosas, fins de curso, espaçadores e cabos, não disponíveis no início das atividades foram adquiridos e integrados ao sistema.

A experiência profissional dos integrantes da equipe e os conhecimentos adquiridos nos dois semestres que antecederam esse trabalho foram muito valiosos para o bom desenvolvimento das modificações e implementações necessárias no equipamento, assim como os conhecimentos das matérias de lógica, programação e instrumentação que nos ajudou a desenvolver o software e especificar os equipamentos de automação empregados.

Esses conhecimentos, assim como o pronto auxílio do nosso orientador, foram de suma importância para a solução de problemas como troca de motor, especificação de equipamento para o ajuste no alinhamento do fuso e redimensionamento de equipamentos pneumáticos.

Assim sendo, com todo o esforço e determinação empregado para aprimorar esse trabalho pretendemos sugerir uma aplicação simples e eficaz para atividades de manipulação de pequenas peças.

 

6. REFERÊNCIAS.

BRASIL. SISTEMA LADDER. Disponível em: < https://www.coladaweb.com/matematica/sistema-metrico-decimal> Consultado em 23/05/2021.

BRASIL. O QUE É FRESADORA. Mecânica Industrial. Disponível em: <https://www.mecanicaindustrial.com.br/o-que-e-fresadora/> Consultado em 23/05/2021.

BRASIL. UNIDADES DE MEDIDA. Essel Engenharia. Disponível em <https://essel.com.br/cursos/material/01/CalculoTecnico/aula1b.pdf> Consultado em 23/05/2021.

BRASIL. TIPOS DE EIXOS. CRV Industrial. 14 nov. de 2017. Disponível em <http://www.crvindustrial.com/blog/tipos-de-eixos> Consultado em 23/05/2021.

BRASIL. LINGUAGEM LADDER: City Systems. Disponível em <https://www.citisystems.com.br/linguagem-ladder/> Consultado em: 23/05/2021.

BRASIL. IHM. Wonderware. Disponível em <https://www.wonderware.com/pt-br/hmi-scada/what-ishmi/> Consultado em: 23/05/2021.

BRASIL. IHM Homem-Máquina, Máquina-Homem. LCDS. Disponível em <https://www.lcds.com.br/blogger/ihm-homem-maquina/>. Consultado em: 23/05/2021.

BRASIL. Sistemas de controlador lógico programável MicroLogix 1000. Rockwell Automation. Disponível em <https://bit.ly/3yTPNee> Consultado em: 01/06/2021.

BRASIL. O que são sistemas supervisórios? Elipse Knowledgebase. Disponível em <https://kb.elipse.com.br/o-que-sao-sistemas-supervisorios/> Consultado em: 23/05/2021.

BRASIL. O que é fresadora. Mecânica Industrial. Disponível em <https://www.mecanicaindustrial.com.br/o-que-e-fresadora/> Consultado em: 23/05/2021.

NERIS, Johnatan Oliveira; SILVA, Rodrigo Avelino da. CÉLULA AUTOMATIZADA PARA A MARCAÇÃO E FURAÇÃO DE BIELAS. FACULDADE DE TECNOLOGIA GARÇA. Disponível em <https://bit.ly/3hIz4V4> Consultado em: 23/05/2021.

 

7. AGRADECIMENTOS.

Agradecemos aos nossos colegas de grupo, convivemos intensamente durante os últimos anos, pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como profissionais.

Aos nossos colegas de turma, pessoas que mesmo não seguindo conosco até o final, passaram por nossas vidas marcando nossa trajetória, agradecemos por compartilharem conosco tantos momentos de descobertas e aprendizado e por todo o companheirismo ao longo deste percurso.

A todos os alunos da nossa turma, pelo ambiente amistoso no qual convivemos e solidificamos os nossos conhecimentos, o que foi fundamental na elaboração deste trabalho de conclusão de curso.

Ao professor Vander, que além de confiar a nos esse projeto que estava sobre sua tutela, nos amparou em todos os momentos de dificuldade técnica, nos auxiliando constantemente nas etapas de programação e disponibilizando materiais, que se nos comprássemos, demandariam muitos recursos financeiros dos nossos orçamentos pessoais.

Ao professor Thiago, por nos iniciar no universo da coleta de apresentação de dados em softwares de desenvolvimento de supervisórios e ainda por nos guiar com muito foco e eficácia no desenvolvimento teórico do nosso projeto.

 

8. SOBRE OS AUTORES.

Aldo Dams trabalha há 28 anos em empresas automotivos na área de solda. As opções são muitas. Para montagem de autopeças está entre um dos ramos que oferece uma grande quantidade de vagas para soldador. No setor automobilístico. É necessário que o soldador esteja preparado para trabalhar em conjunto com a tecnologia. Tem que estar preparado para lidar com novidades e inovações do setor.

Diego Wesley de Barros trabalha em empresa do ramo metalúrgico, na função de operador de máquina e prensista. trabalhou durante 12 anos como Encanador Industrial, desenvolvendo tubulações.

Eduardo Fernando Gomes trabalhou 15 anos na empresa Toledo do Brasil, como auxiliar e supervisor na área de montagem de sistemas atualmente sou corretor imobiliário. No seu tempo livre produz conteúdo nas páginas do Instagram que gerencia.

Genilton da Silva Carvalho trabalha a 14 anos em empresas do ramo metalúrgica na área da mecânica de montagem, desenvolvendo instalações industriais e montagens em geral. Trabalhou como ajudante de montagem, montador de estruturas e há 9 anos exerce a função de líder operacional. Nessa função é responsável pela distribuição das atividades, controle da produtividade, segurança da equipe e qualidade na entrega.

Pedro Henrique Gomes Santana é responsável pelo cadastro, atualização, análise e qualidade de todos os certificados de calibração emitidos pela empresa, de acordo com a normas e metodologias da empresa e do Inmetro. Responsável pelo cadastro e adequação do Escopo de Calibração da empresa e de todas suas unidades do Brasil

Rodrigo Fernandes da Silva é Técnico em Automação Industrial formado pelo SENAI, trabalha no setor de engenharia como projetista elétrico há 10 anos com empresar do setor de autopeças. Como projetista, trabalhou com desenvolvimento de painéis para comando, controle e potência e nos últimos 5 anos, com desenvolvimento de projetos de sistemas automatizados e robotizados para soluções de soldas, manipulação e usinagem.

Vilson Alves de Souza trabalha a 20 anos como eletricista de manutenção, formado técnico em mecatrônica, com especialização em comandos elétricos e CLP.

 




quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Tradição e contemporaneidade nas Histórias de Índio.

FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 9, Série 15/09, 2021.


Profa. Ms. Gabriela Raizaro Tosi

Mestre em Literatura e Crítica Literária - PUC/SP
Especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade - FACON
Especialista em Gestão EAD - UFSCAR

Graduada em Pedagogia - UNIMES
Licenciada em Letras - CEUFSA


RESUMO: O presente estudo busca analisar a tradição e a contemporaneidade na obra Histórias de Índio, do autor indígena Daniel Munduruku, buscando elementos que mostrem a relação simbiótica entre a tradição da cultura indígena milenar com a sociedade branca contemporânea.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Textual, Histórias de Índio, Cultura Indígena.

 

ABSTRACT: This study seeks to analyze the tradition and contemporaneity in the work Histórias de Índio, by the indigenous author Daniel Munduruku, seeking elements that show the symbiotic relationship between the tradition of millenary indigenous culture and contemporary white society.

KEYWORDS: Textual Analysis, Indigenous Stories, Indigenous Culture.



1. INTRODUÇÃO.

Os povos originários possuem culturas voltadas para a transmissão oral de conhecimentos e elementos da sua cultura (lendas, histórias e etc.).

Temos no Brasil, mais de 300 línguas, sendo a maior parte delas indígenas e temos muitos povos que ainda não possuem escritores, ou seja, muitas culturas indígenas ainda não possuem registros escritos sobre suas histórias, cultura e religião.

Contudo, os autores indígenas vêm se organizado para publicar suas obras e se aproximares dos centros culturais por meio da busca pelo reconhecimento da sua produção cultural e acadêmica.

Podemos citar Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Kaká Werá Jecupé, Márcia Wayna Kambeba dentre outros que possuem produção relevante para conhecimento e aprofundamento das temáticas indígenas atuais e ancestrais.

Diante disso, se tornam cada vez mais relevantes as pesquisas que voltam para o entendimento da realidade indígena brasileira e que aproximam a sociedade e os povos originários.

Assim sendo, é interessante notar que alguns povos indígenas, possuem representantes na sociedade que se destacam pelo vigor da produção acadêmica, pelo ativismo social, pela defesa do meio ambiente ou pela capacidade de alcance que a sua fala possui em meio às pessoas comuns.

 

2. DANIEL MUNDURUKU.

Daniel Munduruku, é escritor indígena sobre o qual o presente trabalho se debruçará a partir da perspectiva literária, analisando sua obra Histórias de Índio.

O autor se dedica à literatura infantil e juvenil produzindo obras contextualizadas em aldeias munduruku com personagens que percorrem diversos temas ao longo do enredo e trazem o leitor para o seu universo, aproximando-o da sua cultura de forma suave e orgânica.

Pertencente à etnia Munduruku, pertencente ao tronco Tupi Guarani, cuja maior parte se estabelece no Estado Brasileiro localizado no norte do país, é na região do Pará que nasceu em 28 de fevereiro de 1954 Daniel Mundurku na cidade de Belém, onde viveu toda a infância.

Apaixonado pelo conhecimento, construiu uma vida acadêmica marcada por três graduações, filosofia, história e psicologia no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), mestrado e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Dedicou e dedica sua vida à escrita de livros, sendo autor de diversos livros, ganhador de diversos prêmios Comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República (2013)

Menção honrosa do Prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão da Tolerância, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Menção de Livro Altamente Recomendável pela Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil, Prêmio Jabuti de Literatura, Prêmio da Academia Brasileira de Letras, Prêmio Érico Vanucci Mendes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é membro da Academia de Letras de Lorena. É diretor-presidente do Instituto Uk'a - Casa dos Saberes Ancestrais.

O autor se dedicou ao estudo da educação, da literatura e da linguagem produzindo estudos publicados sobre esses temas, que sempre voltados para o universo indígena, contribuem para difusão do conhecimento e aproximação com a cultura da etnia Munduruku.

Diante disso, torna-se importante entender alguns conceitos culturais importantes desse povo antes de abordar o conteúdo da sua obra literária, que também estão presentes nas suas obras e cujo conhecimento permite ao estudioso alcançar as referências que o autor traz em seus enredos.

Essa etnia indígena, assim como muitas outras, é nômade. O nomadismo traz uma percepção única sobre os elementos e conquistas materiais bem como sobre o trabalho, pois um povo nômade não tem vê necessidade em trabalhar para acumular riquezas, tendo em vista que trabalha para garantir a sobrevivência do grupo.

Nesse sentido, o senso coletivo é muito forte e os esforços de um indivíduo do grupo sempre visam resultados que se estendam a todos; salientamos aqui que o meio ambiente está inserido no grupo de forma autêntica e relevante.

 

3. CULTURA ÍNDIGENA E VOCABULÁRIO.

Os indígenas compreendem a relevância do ecossistema para a sua existência e para o equilíbrio da vida e tornam essa percepção realidade através de ações voltadas para a caça consciente, o respeito com todos os elementos naturais e a luta pela sua preservação.

Consequentemente, todos os povos indígenas possuem um ativismo ambiental muito presente em suas ações e trajetórias de atuação no mundo.

São os maiores representantes da natureza se colocando em frentes de resistência contra o desmatamento e o consumo descontrolado da sociedade de consumo, sempre se equilibrando entre as necessidades de consumo e as jornadas exaustivas de trabalho.

Também podemos citar como característica cultural do povo Munduruku a percepção do tempo, tendo em vista que se dedicam ao momento presente e usam o passado como fonte de aprendizado e conhecimento e o futuro como uma possibilidade na linha da vida de todos os seres vivos.

Sempre que dialoga com pesquisadores em lives e entrevistas, Daniel Munduruku deixa clara essa questão ao comparar as fases da vida como um círculo no qual cada estação precisa ser vivida plenamente para que a vida siga seu rumo de maneira saudável e plena .

Esses aspectos culturais, relatados aqui brevemente, se revelam nas histórias que dão vida aos personagens do autor e se mostram extremamente importantes para o entendimento aprofundado dos elementos narrativos apresentados ao longo das obras.

Além disso, a religião também se mostra extremamente importante e presente nas obras de Daniel Munduruku aparecendo por meio de histórias dos antepassados que são contadas para ensinar, para demonstrar ou mesmo para reunir a aldeia em porandubas (conversas, no idioma Munduruku).

Quanto ao vocabulário, sua obra conta com a estrutura da língua portuguesa para se mostrar ao leitor com toques da língua munduruku presentes na escolha do uso de palavras desse idioma para representar algumas ideias ao longo das narrativas.

 

4. HISTÓRIAS DE ÍNDIO.

É com a publicação de Histórias de índio, Companhia das Letrinhas, 1997, que Daniel Munduruku estreia como autor de literatura indígena.

Essa obra se trata de um jovem que será iniciado nas práticas de pajelança e em seu contato mais íntimo com a religião do seu povo, aprende segredos e ensinamentos que o conectam com a sua camada mais profunda do EU: os sonhos.

Seu mestre lhe ensina que não é possível se tornar um pajé sem a prática do sonho, pois ele revela muitas coisas e conecta o humano com o mundo espiritual.

Diante disso, o aprendiz se dedica em começar o aprendizado que o mestre lhe solicita e, portanto, cumprindo os ritos de passagem para a vida adulta cheia de responsabilidades com a aldeia e com as suas novas tarefas.

O livro é divido em três partes, sendo a primeira sobre a vida do Kaxi, conforme relatado brevemente acima, e a segunda falando sobre a vida do próprio autor e a sua convivência com os elementos do universo ocidental.

E, por fim, a terceira parte na qual são apresentadas informações sobre a etnia Munduruku, trazendo conhecimentos gerais sobre esse povo e suas principais características.

Diante disso, o leitor atento fica se questionando se a obra se trata, ao menos em parte, de uma autoficção, na qual o autor se coloca como um personagem com traços biográficos e analíticos em relação aos fatos vividos em uma cadência que o faz reviver situações repaginadas pela narrativa, que o coloca em posição analítica sobre as próprias memórias e finaliza com dados provenientes de uma pesquisa forma sobre sua etnia.

A partir dessa perspectiva, na qual temos uma única obra intitulada Histórias de Índio, dividas em três partes sendo a primeira e vida na aldeia e a segunda a vida na sociedade do homem branco e a terceira mostrando a face do pesquisados de racionaliza e estuda seu próprio povo, suas origens, mas todas essas personas se estruturam a partir de apenas um indígena que permeia toda a história: o narrador.

Por esse motivo, associa-se o fato de o narrador estar presente nas duas histórias e o termo Índio, presente no título, estar na sua forma singular, pois mesmo quando a pesquisa se apresenta no final do livro, com dados relevantes sobre os Munduruku, é possível perceber um fio narrativo que conduz o leitor pelo conhecimento.

Outro aspecto interessante é a resistência presente na obra que, sensível ao viés literário e artístico do uso da palavra, usa a língua portuguesa com pequenos fragmentos, fraturas em sua estrutura, representadas pelos vocábulos munduruku que marcam presença na língua do opressor dos povos indígenas.

Há muito que o opressor dos povos indígenas deixou de ser os portugueses, que não cedeu seu lugar sem resistir, ao homem branco brasileiro. Diante disso, ainda temos um opressor que se expressa em língua portuguesa e que precisa ser conscientizado de que o indígena existe e vai continuar presente e difundindo sua cultura e seus saberes ancestrais.

Toda a estrutura da obra se mostra como o percurso do próprio autor, que inicia sua jornada na vida como um indígena nascido e criado na aldeia Munduruku para, na vida adulta, se relacionar com o homem branco e sua sociedade para depois se tornar um pesquisador com uma carreira acadêmica consolidada, que é utilizada como instrumento de combate e resistência no que diz respeito às causas indígenas e às necessidades do seu povo.

Assim sendo, tanto na ficção como na vida real, temos a tradição convivendo com o contemporâneo, pois a vinda do indígena para a sociedade branca em sua estrutura acadêmica transporta esses elementos para uma convivência intercultural e não estacionária, na medida em que se ressignifica a partir do contato.

 

De acordo com BAUMAN:

Resumidamente, a “individualização” consiste em transformar a “identidade humana de um dado” em uma “tarefa” e encarregar os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das consequências (assim como dos efeitos colaterais) de sua realização. Em outras palavras, consiste no estabelecimento de uma autonomia de jure (independente de a autonomia da facto também ter sido estabelecida). (BAUMAN, 2021, p.44)

 

Vários elementos contribuem para que a tradição e a contemporaneidade sejam vistos lado a lado na relação entre autor e autoria, tendo em vista que a sua afirmação enquanto autor indígena se dá no instrumento de difusão de conhecimento do homem branco: o livro, em língua portuguesa; produzido em três etapas que mostram todas as faces do autor na sua autoria.

Os “efeitos colaterais” da identidade individualizada do indígena acadêmico se dão na medida em que os saberes originalmente difundidos na linguagem oral munduruku se manifestam na escrita poética de Daniel, pelas aventuras do menino Kaxi, ou pelo relato da sua convivência com a cultura do homem branco, que muitas vezes questiona sua identidade pelo percurso acadêmico vivido de forma obrigatoriamente distanciada da sua aldeia.

Esse distanciamento é questionado e visto como uma perda gradativa de identidade de forma injusta, tendo em vista que o país não universaliza o conhecimento para a sua população indígena ao não fornecer instituições indígenas de estudo com a oferta de cursos superiores e/ou livros nas línguas indígenas para que seus autores sejam lidos pelos seus na sua língua materna.

 

5. CONCLUSÃO.

Indivíduos que precisam se afirmar, devem buscar sua individualidade com os instrumentos que possuem e utilizando as ferramentas que conseguem angariar.

Infelizmente, os indígenas brasileiros conseguem afirmar sua identidade a firmar sua individualidade com pouquíssimos instrumentos que os colocam em situações relevantes de diálogo com menos frequência que o necessário para a garantida do seu direito de existir.

Por conta disso, a autonomia que os grupos indígenas possuem para preservar sua identidade, nem sempre diz respeito aos esforços, mas sim às condições para que os esforços sejam feitos, pois muitos pagam com a própria vida pela autoafirmação enquanto indígenas brasileiros, povos originários que se organizam socialmente e ocupam os espaços acadêmicos desenvolvendo pesquisa.

O livro Histórias de Índio é uma narrativa que traz diversos elementos para todas as idades conhecerem um pouco mais sobre os povos indígenas e muito a respeito da etnia Munduruku.

Sua construção nos mostra que a tradição e o contemporâneo podem coexistir sem se ferir, embora o contato entre ambos tragam modificações impossíveis de serem barradas ou impedidas porque a falta delas significa a falta de movimento inerente à vida.

 

6. REFERÊNCIAS.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Modernidade Líquida / Zygmunt Bauman. tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

CAMPOS, Hélio Silva. Cosmovisões: antigas e contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2015.

MUNDURUKU, Daniel. Histórias de Índio. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2012.

BRASIL. PIB Socioambiental - Quadro Geral dos Povos Indígenas. UNIRIO - Aula inaugural da Escola de Letras recebe escritor Daniel Munduruku. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Quadro_Geral_dos_Povos> Acesso em: 10/07/2021 às 16h20

WERÁ, Kaká. O poder do sonho: um livro sobre a arte de sonhar. Estados Unidos da América: Tumiak Edições, 2021.



quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Protótipo de Serra automática para materiais não metálicos.

 FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 8, Série 18/08, 2021.


Professores da FAPEN do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial.

Orientadores do Projeto.

Solange Damaceno, Thiago Abraao dos Anjos da Silva, Vander Lunardelli.


Alunos da FAPEN do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial.

Autores do Projeto.

Bruno Fernandes Garcia, Cândido Afonso Dalécio Alexandre, Denis Lima Zuco,
Richard Philippe dos Santos, Weslei da Silva Ferreira.


RESUMO: Partindo do princípio da automatização de tarefas antes realizadas de formas manuais, foi construído um protótipo para automatizar um Arco de Serra, proporcionando um aumento na sua produtividade e desempenho na realização do mesmo serviço. O projeto foi realizado de forma a atender as novas demandas tecnológicas, através do uso de uma plataforma de processamento baseada em CLP (Controlador Lógico Programável) do fabricante Altus, bem como a utilização de normas técnicas de segurança no trabalho em máquinas (NR-12). O objetivo do protótipo é dispensar o esforço manual e, em contrapartida, agilizar e trazer redução de custos inerentes ao processo de corte feito pela ferramenta.  O sistema foi desenvolvido a partir da transformação do movimento circular, realizado pelo motor elétrico, em um movimento linear, com o uso de uma biela, como comparação, tal movimento é o inverso em motores à combustão. Na fixação da peça a ser cortada, foi projetado um sistema pneumático que atua de forma automatizada. Finalmente, para o desligamento automático, utilizou-se um fim de curso, que ao término da operação de corte é acionado contribuindo para o aumento do nível de confiabilidade e de segurança do protótipo.

PALAVRAS-CHAVE: Serra Arc Automation, CLP Altus, Supervisory.

 

ABSTRACT: Starting from the principle of automating tasks previously performed manually, a prototype was built to automate a Serra Arch, providing an increase in productivity and performance in performing the same service. The project was carried out to meet the new technological demands, using a processing platform based on the PLC (Programmable Logic Controller) from the manufacturer Altus, as well as the use of technical safety standards at work on machines (NR-12). The purpose of the prototype is to dispense with manual effort and, on the other hand, streamline and reduce costs inherent to the cutting process made by the tool. The system was developed from the transformation of the circular movement, performed by the electric motor, into a linear movement, using a connecting rod, as a comparison, such movement is the inverse in combustion engines. When splicing the piece to be cut, a pneumatic system was designed that works in an automated way. Finally, for automatic shutdown, a limit switch is used, which is activated at the end of the cutting operation, contributing to an increase in the reliability and safety level of the prototype.

KEYWORDS: Automation, Serra Arch, CLP Altus, Elipse Scada.


 

1. INTRODUÇÃO.

Desde os primórdios da sociedade humana o homem vem procurando criar e aperfeiçoar ferramentas para facilitar suas atividades diárias.

Deste modo houve a criação de diversas ferramentas com o auxílio do avanço tecnológico e da integração de conhecimentos de diversas áreas(FRANCHI).

Por este motivo tomamos como base uma atividade que geralmente é realizada por meio de força mecânica humana, e decidimos encontrar uma forma de trazer tal atividade aos tempos atuais de forma que possamos realizá-la de forma mecanizada.

Este projeto tem como base as atividades realizadas com o uso da ferramenta de arco de serra, esta ferramenta possui um conceito de funcionamento antigo e ainda muito eficiente.

O princípio de funcionamento é simples, usa-se um arco costumeiramente de aço onde liga-se as duas pontas por meio de uma chapa de metal tal qual que possua na sua extremidade dentes para que possa haver atrito quando o arco de serra for ser utilizado para realizar o corte de algum material.

Emprega-se tal ferramenta geralmente no cotidiano do lar, e não no dia a dia industrial, pois industrialmente se usa ferramentas de corte rotativas para realizar as mesmas tarefas e com a rapidez que a atividade requer.

A diferença entre as ferramentas de corte manual e as ferramentas de corte automáticas não está somente na rapidez em que o mesmo trabalho é realizado, mas em relação a grande diferença em relação ao custo de aquisição de cada equipamento.

Uma ferramenta automática pode chegar a custar 20 vezes o valor de uma ferramenta manual.

 

2. DESCRIÇÃO DO PROTOTIPO DESENVOLVIDO.

O projeto com a aquisição de uma caixa de madeira de 90x50x20 e uma gaveta 86x48x15, a qual servirá de base para as demais estruturas.

Escolheu-se madeira como material da base pois facilitaria o manejo e diminuiria os custos do projeto.

Optamos por acrílico 2 lados 91x38x2, 2 lados 38x41x2, e a tampa 91x42x2 na parte de segurança com o manejo da peça a ser cortada

A biela necessária para transmissão da rotação do motor para que a serra realize o trabalho foi confeccionada por um dos integrantes do grupo, a peça foi forjada em alumínio com furo passante de 10mm e dois parafusos tipo mosca de 2mm para fixação do eixo do motor.

Utilizou-se um motor de para-brisa automotivo para que o custo do projeto não fosse excedido, e porque este tipo de motor forneceria a força necessária para realizar o corte de alguns materiais além de ter um moto-redutor que nos forneceria diferentes velocidades.

Para realizar a fixação do material a ser cortado com a serra, realizou-se a aquisição de uma morsa de furadeira de bancada que se enquadrava nos parâmetros necessários para ser utilizada no projeto.

No decorrer do projeto evidenciou-se possibilidades de melhoria com a automação de alguns processos, e o primeiro passo que tomamos foi a instalação do CLP, tendo em vista que podemos acionar pelos botões físicos com a programação ladder comandando as ações, ou pelos botões programados no Scada possibilitando mais comando e gerenciamento de informações operacionais, administrativas, e elevando, assim, a qualidade do produto fornecido a manutenção, operacional e até mesmo ao consumidor.

Estas soluções computacionais tornam-se eficazes, favorecendo a gestão estratégica com a adoção das melhores práticas operacionais, baseadas em dados confiáveis e representativos (RIBEIRO).


 




3. METODOLOGIA DE PESQUISA.

Idealizamos um projeto com necessidade de baixo investimento visando a mecanização de uma atividade que antes era feita de forma manual, com baixo nível de produtividade e possíveis chances de acidentes.

Entre as pesquisas feitas e os conselhos dos docentes conseguimos chegar a essa foto e concluirmos o nosso objetivo.


Possui como objetivo aumentar a eficiência dos processos, maximizar a produção com o menor consumo de energia, menor emissão de resíduos e melhores condições de segurança, seja material, humana ou das informações (GUPTA, A.K., ARORA, S.K., WESTCOTT, J.R., 2017).

Entre os dispositivos eletroeletrônicos computadorizados capazes de efetuar operações lógicas escolhemos o controlador lógico programável CLP por ser muito utilizado na indústria.

Estes equipamentos substituem tarefas humanas ou realizam outras que o ser humano não consegue realizar. Entre os dispositivos mecânicos, destacam-se motores, atuadores hidráulicos, pneumáticos, além de partes móveis e componentes estruturais (PRUDENTE, F. Rio de Janeiro: LTC, 2013).

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.

Antes de iniciarmos o projeto, foi feito um brainstorm de ideias e possíveis projetos a serem desenvolvidos, a ideia inicial era que o projeto fosse simples, útil e que pudéssemos aprimorá-lo ao longo de todo curso.

Decidimos então desenvolver o protótipo de serra automática, pois atendia todos os requisitos iniciais que buscávamos e seria um projeto inédito na instituição (VENTURELLI).

 

5. CONCLUSÃO.

Inicialmente, após a montagem do projeto foi necessário realizar testes de esforços e resistência, o equipamento conseguiu realizar o corte dos materiais que foram utilizados como teste.

Com isso comprovou-se a efetividade do projeto em comparação com o uso de um arco de serra de forma manual.

O trabalho seguiu como base o projeto conceitual que foi idealizado pelo grupo no início do trabalho, o que nos possibilitou realizar todos os processos tanto elétricos quanto mecânicos de forma assertiva e com objetivos já conhecidos e compactuados por todos os integrantes.      

Grande parte dos materiais foram confeccionados pelos integrantes do grupo, utilizando habilidades de serralheria e caldeiraria, pois os materiais industrializados tem um grande custo e não se adequavam ao projeto.

Com a interface podemos proporcionar mais segurança para o nosso projeto com a criação de usuários, nem todos poderão acionar a serra ou estar alterando algumas informações no sistema que pode vir a prejudicar o operador ou danificar o maquinário.

O levantamento de algumas possibilidades como no semestre posterior aumentar e reforçar a estrutura do nosso projeto para serrar materiais metálicos, aumentando sua efetividade e junto com a automatização atendendo assim um dos critérios do projeto.

 

6. REFERÊNCIAS.

FRANCHI, C.M. Controladores Lógicos Programáveis: Sistemas Discretos. São Paulo: Érica, 2008.

GUPTA, A.K., ARORA,S.K., WESTCOTT, J.R. 2017 (Copyright2017.Laxmi Publications Pvt. Ltd. info@merclearning.com).

PRUDENTE, F. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

VENTURELLI, Márcio. Gerenciamento de Projetos de Automação Industrial: Gerenciando a Implantação de Sistemas de Automação Industrial. São Paulo: MHV, 2015.             

MECHTECHGURU.com/2020/05/sawing-machine-classification-of-sawing.

SAWING MACHINE: classification of sawing machines, manual or hand hacksaw, power hack saw, coolant arrangement, hack-saw frame, clamping mechanism, band saw, MECHTECH, 20 de fev. de 2020. Disponível em: <https://www.mechtechguru.com/2020/05/sawing-machine-classification-of-sawing.html?m=1>. Acesso em 10 de maio de 2021.

RIBEIRO, Marco Antônio. Fundamentos da Automação. Salvador: Tek Treinamento & Consultoria, 2003.

 

7. AGRADECIMENTOS.

Agradecemos as orientações dos Docentes da Faculdade Pentágono (FAPEN) durante a jornada da conclusão do curso, bem como na conclusão do protótipo, somadas as experiências profissionais dos integrantes ajudaram a contornar as dificuldades e as etapas propostas pelos professores.

 

8. SOBRE OS AUTORES.

Bruno Fernandes Garcia é graduado em Técnico de Mecatrônica e Mecânica de Refrigeração e Climatização Residencial. Na FAPEN é aluno do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial. Atua como Mecânico Pleno em refrigeração e climatização no Hospital do Coração- HCOR.

Cândido Afonso Dalecio Alexandre é aluno do curso de Tecnologia Mecatrônica Industrial na FAPEN, atua como Mecânico de Manutenção na General Motors do Brasil. Possuí cursos extracurriculares como técnico em mecatrônica, mecânico de usinagem, hidráulica e pneumática, elementos de soldagem e traçagem de caldeiraria e funilaria industrial.

Denis de lima Zuco é aluno do curso de Tecnologia Mecatrônica Industrial na FAPEN. Possuí cursos extracurriculares como técnico em mecânica, técnico em mecatrônica. Atua na empresa CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) atuo como Mecânico de Manutenção.

Richard Philippe dos Santos Ferreira é aluno do Curso de Tecnológica Mecatrônica Industrial na FAPEN. Atua como Técnico de Manutenção na empresa Comercial Hutlon do Brasil, desempenhando o controle e recuperação de equipamentos eletrônicos. Onde é responsável pelo suporte técnico e criação de conteúdos digitais, explicativos e demonstrativos, aos clientes.

Weslei da Silva Ferreira é aluno do curso de Tecnologia Mecatrônica Industrial na FAPEN. Formado em Técnico em Eletroeletrônico, Mecânica Diesel, Elétrico Automobilístico, Pneumático e Hidráulico. Atua como Técnico de Equipamentos Pesados na empresa Veneza Equipamentos Representantes John Deere, realiza atendimento de diagnóstico e reparação, em motores diesel, transmissão.



quarta-feira, 14 de julho de 2021

Estudo dos operadores argumentativos: marcas de intencionalidade de direcionamento discursivo na seção "opinião" de cartas do leitor do Jornal Diário do Grande ABC.

 FAPEN ON-LINE. Ano 2, Volume 7, Série 14/07, 2021.


Prof. Esp. Vanclei Alves Nascimento.

Professor de Linguagens no Colégio Pentágono.
Professor de Língua Inglesa e Alemã para exames de proficiência.

Graduado em Letras pela Faculdade Senador Fláquer.
Pós-Graduado em Docência pela Faculdade Anchieta.


RESUMO: O estudo apresentado neste artigo teve como principal objetivo analisar o uso de operadores argumentativos, marcas do direcionamento discursivo, nas cartas do leitor, do jornal Diário do Grande ABC, corpus, utilizado para tal análise. Verifiquei não só as estratégias argumentativas utilizados pelos interactantes, com também a força argumentativa exibida pela escolha dos operadores argumentativos expostos. Percebi que a utilização desses elementos linguísticos:  mas, pois, e, porque, e ainda, não só adicionam em direção (ou a favor) de uma mesma conclusão como também favorecem estrategicamente uma força (persuasiva) argumentativa no momento de enunciação.

Palavras-chave: Cartas do leitor, Argumentação, Discurso e Operadores Argumentativos.


ABSTRACT: The study presented in this article had as a main objective to analyze the use of argumentative operators, marks of discursive direction, in the readers' letters, from the newspaper Diário do Grande ABC, a corpus, used for analysis. I analysed and verified not only the argumentative strategies used by the interactants, but also the argumentative force displayed by the choice of the argumentative operators exposed. I realized that the use of these linguistic elements: but, because, and, because, and still, not only add towards (or in favor) of the same conclusion, but also strategically favor an argumentative (persuasive) force at the time of enunciation.

Keywords: Reader's Letters, Argumentation, Discourse and Argumentative Operators.


1. INTRODUÇÃO.

Nas mais diversas situações práticas de interação social, mobilizadas pela realidade diária, desenvolvem-se instrumentos de ações de linguagem que não só ampliam a consciência do exercício da cidadania, como também estimulam amplas capacidades, certas competências e destrezas da linguagem, que oportunizam o cidadão a reclamar e reivindicar seus direitos, criticar e elogiar ações sociais, defender-se perante as injustiças, posicionar seus pontos de vista, defender suas opiniões, conquistar seus espaços, assim contribuindo de forma significativa à prática da cidadania.

A carta do leitor, elemento de interação discursiva, corpus sob análise, metodologicamente selecionado, constituído por dois recortes da seção de opinião do jornal Diário do Grande ABC (cartas do leitor dos dias 24 e 25 de setembro de 2018), e os operadores argumentativos, objeto de estudo e análise exposto, são interesses de estudo e investigação deste artigo, que tem por finalidade não só identificar e analisar as marcas linguísticas responsáveis pela argumentatividade, como também evidenciar dimensão da orientação persuasiva argumentativa neste gênero textual, além de aprofundar os conhecimentos sobre a teoria da argumentação. Assim, este estudo apoiou-se nos pressupostos em diversos teóricos como Bakhtin, Ducrot, Eduardo Guimarães, Elisa Guimarães, Ingedore Koch, Marchuschi, Maria H.M.Neves, entre outros.

Encontra-se este estudo organizado em três seções. Constituindo a primeira o“Referencial Teórico“ um levantamento de atuais teorias da argumentação com direcionamento ao discurso persuasivo. Na sequência, a apresentação da análise; e a terceira, as considerações finais. 

Destarte, pretender-se-á, neste estudo, evidenciar a utilização das marcas linguísticas, que denunciam o posicionamento de valores de um sujeito enunciador, como estratégias discursivas que orientam posturas sob um olhar crítico, diante de fatos diariamente expostos na sociedade. E além, espero também contribuir às propostas de ensino da Língua Portuguesa que privilegiam a compreensão e aprendizagem dos operadores argumentativos no texto.

 

2. GRAMÁTICA versus LÍNGUÍSTICA TEXTUAL. 

A Linguística textual surge num momento de inquietações da visão de estudos teóricos e metodológicos sobre a lingua(gem), em que a gramática normativa, focalizada somente nos estudos de (sintaxe de) frase, considerando-a como uma unidade máxima, apresentava e admitia como correto, acerca da língua, um conjunto de regras e análises normatizadas, que não preenchiam determinadas lacunas, apenas considerava quaisquer variações da língua como meros erros gramaticais, “desconhecendo os aspectos semânticos e contextuais em diferentes situações de comunicação.” (MARCUSCHI, 2016, p.11)

Sob tais novas perspectivas pragmático-enunciativas, desenvolveram-se, assim, os estudos de Linguística Textual, que tiveram, na década de 1970, como objeto particular de considerações investigativas: os “processos de produção, recepção e interpretação dos textos; reintegrando o sujeito e a situação de comunicação em seu escopo teórico” (MUSSALIM; BENTES, 2006, p. 16), visões significativamente, na década de 1980, ampliadas, fortalecidas e construídas diante de uma “situação de interação, entre o texto e seus usuários, em função da atuação de uma complexa rede de fatores, de ordem linguística, cognitiva, sociocultural e interacional.” (KOCH, 2015, p.12)

É na presença dessas relevâncias e evidências, que os estudos da lingua(gem) com um olhar muito além de isoladas análises combinatórias transfrásticas e de estrutura e formação de vocábulos, afasta-se dos estudos estruturalistas e dimensiona-se numa “disciplina com forte tendência sócio-cognitivista”, (KOCH, 2001, p. 15-16) que restaura as correntes concepções de texto, orienta a um novo conceito, e muito além, norteia a instituição de um novo viés de análise.


Assim, nos mais diversos interesses e variados campos de estudo tornam-se:

cada vez maior das investigações na área de cognição, as questões relativas ao processamento do texto, em termos de produção e compreensão, as formas de representação do conhecimento na memória, a ativação de tais sistemas de conhecimento por ocasião de processamento, as estratégias sociocognitivas e interacionais nele envolvidas. (KOCH, 2015, p.13)

 

Diante do efeito dessas perspectivas, mais à frente da textualidade, não só se concentram, nos estudos de análise e produção textual, a capacidade de produzir e reconhecer textos, mas também, sobretudo, focalizam-se as atenções no processo comunicativo, estabelecido pela interação, entre autor, leitor e texto, dentro de um determinado contexto, orientando por meio de uma universalidade de significação que busca descrever, compreender, (re)significar os fatores constituintes responsáveis pela definição de textualidade. Nesse sentido:

a Linguística Textual ganha uma nova dimensão: já não se trata de pesquisar a língua como sistema autônomo, mas sim o seu funcionamento nos processos comunicativos de uma sociedade concreta. Passam a interessar os “textos-em-funções”. Isto é, os textos deixam de ser vistos como produtos acabados, que devem ser analisados sintática ou semanticamente, passando a ser considerados elementos constitutivos de uma atividade complexa, como instrumento de realização de intenções comunicativas e sociais do falante (KOCH, 2006, p. 14).

 

Dessa forma, não só diversos fatores tais como a coerência, a informatividade, a situcionalidade, a intencionalidade, a intertextualidade, a aceitabilidade, entre outros, tornam importantes objetos aos mais variados estudos da análise e produção textual, como também o próprio texto dentro de cada situação comunicativa.

 

2.1 Gênero Textual.

O exercício das atividades práticas sociais, em seu pleno uso, não só engendra uma comunicação cada vez mais criativa, dinâmica e eficiente, responsável pela criação de novos gêneros e até mesmo a transformação de um gênero em outro, como também é uma resposta às necessidades comunicativas de seus usuários, que participam nos eventos de interação, pois:

Um gênero discursivo em que busca convencer o outro de uma determinada ideia, influenciá-lo, transofrmar seus valores por meio de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis opiniões divergente. É um processo que prevê uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio de dados consistentes, que possam convencer o interlocutor. (BRÄKLING, 2002, p.226)

 

A noção da expressão gênero textual, relacionada às diversas situações cotidianas comunicativas, conforme Marcuschi (2002) é aplicada à definição de textos “que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.”. 

O estudioso entende que os gêneros são como “formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos”. Ou seja, são variados os fatores que determinam um gênero, dentre eles as sua função e o ambiente em que este se veicula. 

Diferentemente da expressão tipologia textual que “designa uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição” e engloba “meia dúzia de categorias conhecidas como narração, argumentação, exposição, descrição, injunção” (MARCUSCHI, 2002, p. 19-36).


Para Bakhtin (1992), a linguagem é de natureza socioideológica, coexistente de relações dinâmicas e complexas, que se materializam nos gêneros do discurso, “tipos relativamente estáveis de enunciados”, enunciados que não só se definem como unidades reais de comunicação discursiva organizadas por uma cadeia complexa e formada por um intercâmbio linguístico, como também pelas diversas esferas da utilização da língua. O autor afirma que:

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. (BAKTHIN, 1992, p.279)

 

 

Nesse sentido, o autor não só evidencia que toda utilização da língua está permeada em todas as atividades humanas, consequentemente, há uma variedade infinita de gêneros, uma vez que essa atividade se concretizaem forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou outra esfera da atividade humana” (BAKHTIN, 2000: 279), como também considera como elementos básicos de constituição do gênero (discursivo): o conteúdo temático, o estilo e a forma composicional. 

Além de ressaltar que as intenções e necessidades sócio-interativas e comunicativas dos sujeitos são importantes condições de produção dos enunciados e dos gêneros (discursivos), uma vez que o sujeito dentro de suas esferas de atividades exerce determinados papéis socialmente. Pois, no uso da linguagem, em cada esfera, há previamente uma ideia de destinatário que se dirige a um locutor tomado por uma atitude responsiva diante da universalidade finalizada do gênero, marcando o discurso com a integração de conhecimentos historicamente reunidos, intercâmbios socioculturais, e efeitos de processos cognitivos que remetem a tal atitude responsiva ativa. Bakhtin salienta que o sujeito, diante de suas relações com a linguagem, ao falar e escrever ou ler e ouvir desperta previamente um conhecimento do modelo de um gênero.

O autor define gêneros em primários, aqueles associados às atividades sociais cotidianas de comunicação espontânea; e os secundários, os mais complexos, empregados na comunicação cultural, por meio da valorização de formas de linguagem: artísticas, científicas e sociopolíticas.

Nessas perspectivas, este estudo, acolhido pelas concepções sociointeracionistas, atribui à linguagem como uma atividade histórica, social, cognitiva e dialógica, essencialmente interativa, empreendida por seus interactantes em diferentes espaços, privilegiado pela sua natureza funcional e interativa, que utiliza dos mais diversos espaços sociais vinculados às esferas de atividade sociais, em que se realiza e constrói a interação verbal, cujos aspectos discursivos e enunciativos são defendidos por grandes estudiosos das linguagem como Douglas Biber (1988), John Swales (1990), Jean-Michel Adam (1990), Jean-Paul Bronckart (1999).


Diante desta concepção, operada de hipóteses sociointeracionistas:

A genre comprises a class of communicative events, the members of which share some set of communicative purposes. These purposes are recognized by the expert members of the parent discourse community and thereby constitute the rationale for the genre. This rationale shapes the schematic structure of the discourse and influences and constrains choice of content and style. (SWALES, 1990, p.58)

 

Em outras palavras, o autor compreende gênero como um “evento comunicativo” compartilhado num universo de “propósitos comunicativos” que fundamentam e organizam um alicerce lógico para o gênero, constituído de uma escolha de conteúdo e de estilo, uma probabilidade de expectativas, vistas como prototípico, traços de similaridade de sequência, por carregar uma semelhança em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência intencionada.

Na proposta teórica de Jean-Michel Adam (1990), busca-se uma construção reflexiva que abarque diversas orientações enunciativas e formais sobre gênero (texto), sobretudo, redimensionadas, propondo que os gêneros primários são similares aos tipos nucleares responsáveis, entretanto, se modificam para constituir e conceber os gêneros secundários, uma vez que “o reconhecimento do texto como um todo passa pela percepção de um plano de texto, com suas partes constituídas, ou não, por sequências identificáveis” (ADAM, 2011, p.254).


Segundo Adam (2017, “é possível olhar para os gêneros não apenas como tipos de práticas discursivas que integram formações sociodiscursivas ou domínios (jornalístico, religioso, literário, acadêmico etc.), mas também considerá-los a partir de agenciamentos pré-formatados de proposições e macroproposições, classificáveis em cinco relações macrossemânticas básicas, adquiridas por impregnação cultural: narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo e dialogal”. (apud CAVALCANTE, 2017, p. 411)

 

Nos moldes propostos por Jean-Paul Bronckart (1999), teórico sociointeracionista discursivo, o gênero “é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (BRONCKART, 1999, p.103), e sua constituição são estabelecidas por unidades sócio-históricas e unidades psicológicas, desempenhadas pelo conteúdo histórico social do indivíduo e suas condições de produção: a atividade humana em geral, reunidas em representações de aspectos físicos, sociais e subjetivos.

Nas palavras do autor, a ação da linguagem é uma unidade psicológica materializada como unidade comunicativa, definida pelo plano sociológico como “atividade verbal do grupo, recortada pelo mecanismo geral das avaliações sociais” e psicológico como “conhecimento disponível em um organismo ativo” (BRONCKART, 1999, p.99).

Para o autor, a relação de texto e gênero “é toda unidade de produção verbal, oral e escrita, contextualizada, que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e tende a produzir um efeito de coerência no seu destinatário.” (BRONCKART, 1999, p.99). Assim, o gênero carrega em si todas as manifestações das práticas sociais por indivíduos que (re)constroem as funções de circunstâncias de seu papel social e também seu desenvolvimento pessoal. E texto, é propriamente a unidade de produção verbal oral ou escrita pertencente ao gênero que apresenta traços das decisões individuais de seu produtor em uma determinada situação comunicativa.


2.2 A Argumentação (na linguagem).

Orientar uma determinada reflexão em face de certos objetivos de certeza acerca do pensamento ou manifestar, por meio da linguagem, propósitos que defendam previamente a alteração de um posicionamento são características de um processo discursivo: a (arte de) argumentação, “tomada de posição contra outra posição” (FIORIN, 2018, p.29), um recurso da linguagem que não é somente definido como uma organização discursiva com características próprias diferenciadas de outros modos de organização do discurso, como também integra a negociação de argumentos a favor ou contrários a um ponto de vista, que têm como intuito de alterar uma opinião e até mesmo um comportamento diante do conhecimento de mundo, além de convergir a diferentes ciências do conhecimento.

A argumentação, revelada como processo e ferramenta de interação social do homem que precisa se relacionar na vida em sociedade, não só “busca convencer, influenciar, persuadir alguém; defender um ponto de vista sobre determinado assunto. Consiste no emprego de provas, justificativas a fim de apoiar ou rechaçar uma opinião” (PEREIRA, 2006, p.37), como também “tem por vocação explorar as vidas da razão e do raciocínio, tal como é empregada na vida cotidiana em língua natural” (AMOUSSY, 2018, p.8), em outras palavras, é “uma ação que tende sempre a modificar um estado de coisas preexistente” (OLBRECHTS-TYTECA; PERELMAN, 2002, p.61), e está presente na linguagem diária dos falantes que explicam, justificam, apontam e comentam seus posicionamentos, na linguagem verbal ou escrita, com a finalidade de não só estabelecer sua opinião, mas também “construir no terreno das emoções e sensibilizar o outro para agir”(ABREU, 2008, p. 25), configurando dessa forma a arte de persuadir e convencer.

Evidencia-se, assim, que o uso da linguagem é predominantemente argumentativo, pois, os indivíduos, com efeitos de intencionalidade, orientam sua enunciação a certas conclusões no lugar de outras por meio de elementos linguísticos, marcas expressivas reveladoras de intenções, que “são responsáveis pela orientação argumentativa dos enunciados que introduzem, o que vem a comprova que a argumentatividade está escrita na própria língua” (KOCH E ELIAS, 2016, p.64).

Tendo em vista os pressupostos aqui pautados, este estudo, diante da imensa riqueza de possibilidades de análise da argumentação, tem como objetivo compreender a força argumentativa dos elementos linguísticos de coesão textual que não só marcam a organização argumentativa, como também orientam a continuidade da argumentação.

 

3. OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS.

No campo da semântica argumentativa, os elementos linguísticos: operadores ou marcadores argumentativos (articuladores textuais ou marcadores discursivos), na estrutura gramatical da frase, indicam e orientam a argumentatividade dos enunciados, direcionando o encadeamento e a interdependência de ideias, que não só revelam as características de uma comunicação persuasiva, mas também influenciam na argumentação de um texto (artigos, jornais ou revistas) por marcarem a intencionalidade na persuasão, que agem na formação de opiniões, e também (re)definem princípios, além de (re)formar atitudes de posicionamento de visão de mundo, buscando efetivar o convencimento e também “indicar (“mostrar”) a força argumentativa dos enunciados, a direção (sentido) para o qual apontam” (KOCH, 2015, p. 30).

Assim, entende-se que qualquer processo de enunciação, que (re)direciona sentidos e está (co)relacionado a outras enunciações, apresenta uma função argumentativa, marcada pelos operadores argumentativos, termo cunhado por Ducrot (1980 e 1984), o fundador da Semântica Argumentativa (ou Semântica da Enunciação), que afirma que todo valor argumentativo organizado no discurso, diz muito além do que parece dizer, pois “una palabra hace posible o imposible una cierta comunicación del discurso y el valor argumentativo de esa palavra es el conjunto de esas posibilidades o imposibilidades de comunicación discursiva que su empleo determina.” (DUCROT, 1988, p.51), em outras palavras, “una palabra es al mismo tiempo una orientación en el discurso” (DUCROT, 1988, p.52), ou seja, o autor assevera que as palavras de uma língua possuem força ou valor argumentativo. (DUCROT, 1988, p.52).

Posto que a proposta deste estudo, sobretudo, considera o uso da linguagem essencialmente argumentativo, faz-se necessário, para compreender o exame dos operadores argumentativos, apresentar os estudos de Ducrot (1984) sobre a “escala de argumentatividade”, a natureza do caráter de escalar os argumentos, noções de classe argumentativa e escala argumentativa tornam-se relevantes para a análise desses mecanismos linguísticos, que orientam a argumentação; o  primeiro, trata-se do conjunto de enunciados que igualmente, sem força crescente,  serve como argumento direcionado a uma mesma conclusão; e o segundo, refere-se aos enunciados de uma mesma classe não só dispostos em gradação de forma crescente “no sentido de uma mesma conclusão” (KOCH, 2015,p.30), mas também em ordem de força a favor de uma mesma conclusão. 

Assim, “a argumentação é vista como a busca da persuasão de um auditório (alocutário) pelo locutor” (GUIMARÃES, 2001, p.24), uma vez que o operador argumentativo “introduz uma asserção derivada, que visa esclarecer, retificar, desenvolver, matizar uma enunciação anterior. Tem uma função geral de ajustamento,  de precisão do sentido” (KOCH, 1992, p.30).


4. ANÁLISE DOS OPERADORES ARGUMENTATIVOS.

É importante salientar que foi necessário delimitar o objeto de análise, uma vez que encontrei a necessidade de estabelecer limites diante do corpus; portanto, a pesquisa só irá focar nos operadores que apresentaram maior frequência no corpus, são estes: MAS, POIS, E, PORQUE e AINDA.


4.1  As ocorrências do MAS.

Ao analisar os diferentes tipos de relação do operar mas, faz-se necessário, fundamentalmente, considerar seu valor semântico básico que é o de desigualdade, e:

“se relaciona com o próprio significado do étimo latino, o marcador de comparação magis. Basicamente o mas expressa a relação entre dois segmentos de algum modo desiguais entre si: cada um deles não é só o externo ao outro (co-ordenado), mas, ainda, é, marcadamente, diferente do outro. O emprego do mas entre esses segmentos representa o registro dessa desigualdade, indicando que o enunciador se utiliza dela na organização de seu enunciado, tanto na distribuição das unidades de informação, como na estrutura da argumentação”. (NEVES, 2013, p.248)

 


No gênero textual “carta do leitor”, o uso do operador argumentativo mas, “operador argumentativo por excelência”, segundo Ducrot, apresenta-se com frequência, como um marcador discursivo, por ser um elemento linguístico que tem como principal função direcionar pressupostos, “que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias.” (KOCH, 2015, p. 35), além de opor “enunciados de perspectivas diferentes”. (KOCH, 2015, p. 37) Vejamos os exemplos:

 

(1) (...) Não sei vocês, leitores, mas eu não assisto mais horário político para saber em quem votar. (...)

(2) (...) Ainda disse que não haveria pedágio no Rodoanel, mas implantou várias praças. (...)

(3) (...) Prometeu a descentralização da farmácia de alto custo, mas não cumpriu. (...)

(4) (...) Circula pela internet texto que coloca os problemas do Brasil – crise econômica, desemprego, violência, Saúde, Educação, corrupção. Mas o que está sendo discutido e/ou apresentado por todos os candidatos ao Executivo e ao Legislativo é ideologia (...)

(5) (...) os filhos não devem ser educados só para respeitar minorias, mas sim o ser humano (...)

(6) (...) Intelectuais e outros que assinaram o ‘pela democracia e pelo Brasil’ poderiam ser levados a sério senão apontassem apenas o líder nas pesquisas, Bolsonaro, mas também Haddad, cujo chefe (...)

Todos os exemplos expostos acima, na “carta do leitor”, tratam sobre as eleições políticas de 2018 e as inquietações sociais manifestadas pelos indivíduos sobre o que vem ocorrendo durante este período, levando o leitor a conscientizar-se sobre a escolha de seus candidatos.

No exemplo (1), o enunciador, introduz um argumento possível para a conclusão, afirma  que não sabe se o enunciatário assiste aos horários de propaganda política, e introduz o argumento de que não assiste mais, pois está indignado com as opções dos candidatos apresentados. Neste enunciado, o operador mas direciona a compreensão de sua posição contrária referente ao ato de assistir às propagandas de horário político.

No exemplo (2), ao introduzir o argumento de que não haveria pedágios no Rodoanel, proposta do ex-governador, o enunciador utiliza do operador argumentativo mas, para reforçar e concluir uma ideia oposta à outra, ou seja, espera-se que não haja praças de pedágio no Rodoanel, entretanto, o argumento apresentado pelo mas, leva o enunciatário a uma conclusão contrária.

No exemplo (3), é introduzido um argumento de que há promessas para a descentralização da farmácia de alto custo. Contudo, com a utilização do mas, leva o enunciatário a uma conclusão contrária: o não cumprimento da promessa.

No exemplo (4), o argumento apresentado pelo enunciador previamente é sobre os diversos assuntos relacionados aos problemas sociais que circulam nas redes midiáticas, e que deveriam ser problemáticas abordadas como pauta dos candidatos. No entanto, introduz-se com o uso de mas, um argumento de conclusão fundamentalmente contrário a todas expectativas, ao fato de que as questões ideológicas de gênero, machismo e racismo entre outros foram os principais assuntos apresentados pelos candidatos.

No exemplo (5), o argumento exposto previamente é que os candidatos que desejam ser eleitos, discutem em suas pautas, questões relacionadas à moral e ideologia na educação, como racismo, machismo, feminismo, etc. Entretanto, com a utilização do mas, a enunciatária leva o interlocutor a uma conclusão oposta, de que é da responsabilidade da instituição familiar transmitir os valores morais e sociais, que segundo a enunciatária, este papel não cabe ao candidato eleito. 

No exemplo (6), no argumento previamente exibido trata-se sobre a conduta unilateral inclinada, por aqueles que assinaram o manifesto pela democracia e pelo Brasil, a exaltação dos resultados de maior estatística e probabilidades, a apenas uma dos candidatos líderes ao cargo de presidência. No entanto, a enunciatária, ao utilizar o mas, leva o interlocutor a questionar tal conduta e postura feita por aqueles que acordaram o manifesto pela democracia e pelo Brasil.

Pode-se observar, nos exemplos do corpus, que a utilização do operador mas, é marcada por orientar uma direcionamento de conclusões contrárias, essencialmente fundamentadas por um aspecto de direção discursiva-argumentativa, e, ainda, caracterizadas por zonas de interferência de desigualdade, como de contraste (exemplo 6), de contrariedade (exemplo 5), de desconsideração (exemplo 1), de oposição (exemplo 2) e de refutação (exemplo 4), características evidenciadas pelo registro  da marca de desigualdade, “indicando que o enunciador reconhece e se utiliza (da) organização de seu enunciado, tanto na distribuição das unidades de informação, como na estrutura da argumentação”.(NEVES, 2013, p.248)


4.2  As ocorrências do POIS.

O operador pois em todos os exemplos abaixo introduz “uma conclusão relativa a argumentos apresentados em enunciados anteriores”, (KOCH, 2015, p.24), ou seja, mostra uma justificativa ou explicação do que está previamente relacionado ao enunciado anterior.

 

(1) (...) os de transporte surgiram e rapidamente relegaram os táxis ao esquecimento, pois eram transportes caros.(...)

(2) (...) Às vezes duvido que tenham planos de governo, pois não nos apresentam nada.(...)

(3) (...) Fiquem atentos, pois o edital não mostra o dia e em que jornal foi publicado. (...)


No exemplo (1), o argumento previamente exposto é sobre a criação de um serviço privado que facilitou o sistema de transporte individual. Ao introduzir o uso do operador pois, a enunciatária, para (re)direcionar ao interlocutor uma conclusão e justificativa com força argumentativa, conscientiza o interlocutor sobre o alto custo cobrado dos serviços de transporte individual, e sugere que uma ação seja feita também na área e sistema de saúde privada.

No exemplo (2), o operador pois, cumpre a função de acrescentar explicação de uma opinião: o fato de os candidatos tratarem em suas exibições apenas questões pessoais da ética e moral de suas posturas, levando o interlocutor a pressupor a conclusão de que há por parte dos candidatos uma ausência explícita de assuntos relevantes aos novos e futuros planos de governo.

No exemplo (3), ao utilizar o operador pois, o enunciatário evidencia de forma explicativa  que ocorre um fato de grave importância a saber por parte dos associados que usufruem de uma instituição particular. Segundo o enunciatário, houve por parte da diretoria dessa instituição uma reunião sem o conhecimento dos associados. Assim o enunciatário leva o interlocutor a, também, focalizar o fato exibido.

Pode-se observar, nos exemplos do corpus, que a utilização do operador  pois, é marcada por um aspecto de direção discursiva-agumentativa, caracterizada, essencialmente, por introduzir um direcionamento de justificativa (no exemplo 1) ou explicação (nos exemplos 2 e 3), relacionados aos fatos previamente exibidos no enunciado. Este elemento linguístico, basicamente, apresenta-se como um operador “responsável pelo encadeamento de um novo segmento discursivo, que consiste num ato de justificação do enunciado anterior”. (KOCH, 2008, p.197). 

Assim, a utilização do pois, tem como principal objetivo, como estratégia argumentativa, de fortalecer, intencionalmente, um determinado argumento com a finalidade de persuadir o enunciatário por meio de uma justificativa ou uma explicação.


4.3  As ocorrências do E.

Na arquitetura do texto, o valor da relação semântica do e é, basicamente, o de adição, pois:

“essa definição se relaciona com o próprio significado etimológico de e, entendida a relação temporal apenas no sentido de estruturação do enunciado. A ocorrência de e entre dois segmentos indica que cada um deles é externo ao outro (co-ordenado) e que o segundo se soma ao primeiro no processo de enunciação. Fica indeterminada a direção que toma o segundo segmento em relação ao primeiro, tanto na organização das unidades de informação como na organização argumentativa.” (NEVES, 2013, p.248)


Essencialmente, no corpus analisado, o operador e é utilizado com maior frequência no papel de acrescentar argumentos a outros anteriormente apresentados em favor de uma mesma conclusão, não só para evidenciar a mesma força argumentativa, como também para marcar argumentos de maior importância e até “uma relação de causa-consequência”. (NEVES, 2011, P. 740).

 

(1)(...) Os de transportes surgiram e rapidamente relegaram os táxis ao esquecimento.

(2)(...) A hora está chegando e fica cada vez mais evidente a falta de preparo de partidos (...)

(3)(...) senadores, que têm como principal função fiscalizar o Executivo, propor leis e tomar medidas para reerguer a Nação (...)

(4)(...) Nunca trouxe o metro no grande ABC e sempre nos enrolou. (...)

 

No exemplo (1), a enunciatária ao utilizar o operador e, introduz um argumento direcionando a uma determinada conclusão de que a criação de um aplicativo de transporte individual privado, por gerar um custo menor do serviço, obteve grande êxito, levando o interlocutor à conclusão de que o serviço de transporte individual (taxi), por apresentar um custo maior, acaba sendo relegado cada vez mais ao esquecimento.

No exemplo (2), ao utilizar o operador e, que não só cumpre um valor temporal, como também orienta a uma certa conclusão. O enunciatário sugere ao interlocutor a pressuposição de que a data da eleição está bem próxima, e, no entanto, os candidatos continuam com uma falta de preparo para assumir os cargos administrativos.

No exemplo (3), o operador e, além de acentuar elementos de uma mesma força argumentativa para evidenciar o grau de importância de algo, leva o interlocutor à conclusão de que uma das funções do cargo de senador é não só fiscalizar o Executivo e propor leis, mas também cabe a este tomar medidas que reergam a Nação.

No exemplo (4), o operador e, cumpre o papel de acrescentar argumento a algo que foi dito antes a favor de uma mesma conclusão. Segundo o enunciatário, o fato é que o ex-governador não cumpriu com a promessa de beneficiar a região do Grande ABC com um serviço de transporte mais rápido (no caso a implementação do metrô), levando a conclusão de que o interlocutor reaja de forma descrente às atitudes de tal candidato. 

Pode-se observar, nos exemplos do corpus, que a utilização do operador  e, acionado pelo enunciador, é marcada por um aspecto intencional de direção discursiva-agumentativa, caracterizada, essencialmente, por um direcionamento conclusivo do argumento, como também: introduz argumentos por meio da gradação de  uma escala argumentativa (conclusiva) de maior importância (exemplo 3); apresenta argumentos de uma mesma escala argumentativa (no exemplo 2); introduz (no exemplo 1) temas “inaugurando cenas, apontado para a frente, ao mesmo tempo que deixa para trás um bloco que se encerra”(NEVES, 2013, p.252); e, também, ocorre como característica típica “de arremate” (NEVES, 2013, p.253), conclusivo, encerrando um parágrafo. 

Assim, a utilização do e, tem como principal objetivo, nas estratégias argumentativas, de fortalecer, intencionalmente, um determinado argumento, adicionando um outro argumento,  com o intuito de persuadir o enunciatário por meio de uma ideia conclusiva de acréscimo.


4.4  As ocorrências do PORQUE.

Essencialmente, o operador porque cumpre a função de “introduzir uma justificativa ou explicação relativa ao enunciado anterior.” (KOCH, 2015, p.35), estabelecendo, também, um efeito estratégico de direcionamento conclusivo ao enunciado (fato ou dizer) previamente mencionado. Assim, ocorrendo uma nova enunciação que obtém a primeira como tema.

Há de se considerar também, as palavras de Elisa Guimarães (2013), este elemento como recurso de extrema importância e valia nos nexos lógicos do processo de hierarquização e organização textual/discursiva, por apresentar, também como mais frequente, relações de causa e efeito, contribuindo na avaliação do grau de competência discursiva.


(1)(...) Nessas eleições, rogo a Deus para que olhe por nós, porque estamos à deriva.

           

No exemplo (1), a utilização do porque, marca a importância de uma ação por meio de uma justificativa de súplica. A enunciatária leva o interlocutor a admitir a necessidade de uma intervenção divina. Segundo a enunciatária, a postura moral e ética dos candidatos nos debates políticos, pelos mais variados meios de comunicação, está sugestivamente à deriva.

Pode-se observar, nos exemplos do corpus, que a utilização do operador  porque, “é marcada essencialmente por um aspecto de direção discursiva-agumentativa, “que induz um ato de justificativa do enunciado anterior” (KOCH, 2008, p.212), caracterizado por um direcionamento conclusivo de explicação relacionado ao fato previamente exibido no enunciado.


4.5  As ocorrências do AINDA.

O operador ainda acrescenta à argumentação algo que foi previamente dito a favor de uma mesma conclusão, não só para marcar elementos de uma mesma força argumentativa, como também argumentos de grande importância, além de favorecer um grau de importância aos argumentos, introduzindo “no enunciado conteúdos pressupostos”. (KOCH, 2015, p.38)

 

(1)(...) No PMDB já vimos deputado correndo com mala cheia de dinheiro e apartamento abarrotado com grana viva, sem contar ainda que o Psol representa os invasores de propriedades alheias.(...)

(2)(...) Ainda disse que não haveria pedágio no Rodoanel, (...)


No exemplo (1), a utilização do operador ainda marca um acréscimo no argumento, previamente mencionado, de que os partidos políticos e seus representantes não estão preparados para assumir postos de comando do país, acrescentando uma força argumentativa de maior importância a outro argumento de que tais partidos e seus respectivos representantes cometem erros nítidos de corrupção e abuso do poder, diante de tais pressupostos, levando o interlocutor, segundo a enunciatária, à conclusão de que todas as pessoas devem ser cuidadosas ao escolher representantes para o país.

No exemplo (2), o enunciatário apresenta, previamente, fatos de que um candidato político, que pleiteia o cargo de comandante do país, não cumpriu devidamente com seus deveres quando estava num cargo abaixo da presidência. E ao utilizar o operador ainda, o enunciatário não só evidencia os fatos expostos por ele num grau maior de importância, como também acrescenta outro argumento de que o mesmo candidato também descumpriu com a promessa de que não haveria pedágios no Rodoanel. Assim, o enunciatário leva o interlocutor, de forma conclusiva, não só a desconstruir a imagem do candidato, mas também de dar ao político um crédito de descrença.

Pode-se observar, nos exemplos do corpus, que a utilização do operador ainda, é essencialmente como um marcador temporal, evidenciando repetições de acontecimentos previamente mencionados,  pelo enunciador, mas que resultam na continuidade de um estado, assim focalizando também o uso do ainda como aspecto de direção discursiva-agumentativa, caracterizado por acrescentar, de forma persuasiva (e conclusiva) conteúdos pressupostos, que indicam não alteração de mudança de estado, centralizando no seu uso uma (maior evidência intensidade estratégica de) força argumentativa, uma vez que este marcador discursivo “tende a expressar um posicionamento em relação às expectativas dos interlocutores a respeito de assuntos que estão sendo falados”. (MARTELOTTA, 1994, p.184)

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A comunicação por meio de cartas do leitor é realidade, um elemento de interação discursiva, instrumento de transmissão sobre a urgência cotidiana em sociedade, na vida de milhões de cidadãos, que necessitam de uma imposição social revelando seus valores, é o espaço em que a sociedade (re)produz suas concepções e, também, dimensiona, a fundo, suas reflexões e observações diante de temas da atualidade.

Inegavelmente, é um gênero textual de relevância significativa, veiculado para fins de atos comunicativos reservados à manifestação de posicionamentos de leitoras e leitores (enunciadores) que evidenciam opiniões, sugestões, críticas, perguntas, elogios e reclamações, et cetera, além de desvelar a mise en scène de um contexto sócio-histórico e ideológico, além de apresentar marcas linguísticas que atribuem ao enunciado uma força argumentativa, que não só (in)conscientemente aponta, focaliza e assinala um determinado sentido, como também conduz o enunciatário a chegar certas conclusões em vínculo a outras.

Há de considerar, ainda, as cartas do leitor como um veículo e/ou produto resultante de uma interação social reservada aos anseios de manifestações de visão de mundo por leitoras e leitores, que se interessam em comunicar fatos, confrontar e confirmar opiniões, expondo juízos de valores sociais diante de um determinado contexto sócio-histórico e ideológico, que não só desvelam perspectivas de entendimento de atores sociais participantes de um universo discursivo num processo de produtividade, resultado de sistematização coletiva e transferência da informação, como também influenciam  a elaboração, a organização e o desenvolvimento, além de contribuir com a sustentação e para a estruturação de raciocínio, do modo a refletir sob o julgamento e compreender o discernimento e o pensar de seus interlocutores.

Destarte, é consensual, nos estudos de língua(gem), em que numerosos questionamentos se constituem e diversas concepções geram amplas discussões sob certas funções de linguagem, considerá-la “como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos.”(KOCH, 2015, p.07-08). É, portanto, na linguagem que se buscam, sob diversas formas intuitivas, operar manobras coesas e coerentes, de progressivos avanços e harmoniosa capacidade de entendimento, da própria expressividade do enunciado.

Longe de ser suficiente, considerar os elementos coesivos, precocemente categorizados pela gramática normativa, como meros elementos relacionais, conectivos periféricos, ou de ligação; faz-se necessário, portanto, compreendê-los no terreno da linguagem e em seus diversos contextos de interação, não só enquanto instâncias capazes de engendrar sentidos, mas também como marcas linguísticas articuladoras e responsáveis para a configuração de uma estratégia discursiva relevante, cumprindo funções argumentativas por indicar, estabelecer, determinar e direcionar, nas nuances dos enunciados, um valor de posicionamento, que fortemente implica, e a fora, assevera, uma construção de esquemas argumentativos.

Sob o efeito dessa evidência, há um aspecto de notoriedade, entre os estudiosos da língua, de que por meio do funcionamento e interação da linguagem em seus múltiplos contextos, “o homem se apropria da língua” (KOCH, 2008, p.19) e serve-se da própria, não só empregando, mas também operando os mecanismos e unidades linguísticas, para (re)significar sua concepção de mundo e do pensamento, além de formar enunciados que atentem à necessidade de interação no meio da comunicação em sociedade. Posto isto, é na cadeia comunicativa que se arquiteta toda a articulação entre a língua, os valores e a ideologia, e, também, se materializa o objeto discursivo comunicativo.

Diante de uma interpretação complementar, é no entrelaçamento das instâncias da enunciação que se constroem, num contínuo intercâmbio, as relações de sentido. Por meio da linguagem, o homem exprime, exterioriza e manifesta interação. A excelência de qualquer interação discursiva, que toma por objetivo, meio e fim a serem alcançados, vincula-se na seleção apropriada e no papel dos operadores argumentativos, expressados conveniente e satisfatoriamente, em uma riqueza e variedade infinita de uma esfera e planejamento discursivos para portar-se sob outrem de modo persuasivo. Assim, o homem inviabiliza o sucesso das marcas linguísticas a seu favor.

Em meio a tais reflexões propostas, é na materialidade dos operadores argumentativos que não só veiculam as construções de sentido do discurso em uma organização enunciativa para atingir plenamente os fins do ato comunicativo, que (in)voluntariamente estabelecem posicionamentos de valor de mundo e manifestam ideologias, mas também direcionam e norteiam a uma determinada indicação, sobretudo, por aspectos discursivos, que conduzem, encaminham, guiam, e dirigem o enunciatário a constituição de um efeito de intencionalidade, força, função e orientação argumentativa, modelando um discurso persuasivo construído de elaborações e representação de seus valores para prováveis consequências de adesão.


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