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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Aprendendo um segundo Idioma (língua): caminhos e possibilidades.


FAPEN ON-LINE. Ano 1, Volume 7, Série 06/07, 2020.



Profa. Sandra Cunha.

Graduada em Letras - UNIABC.
Pós-Graduada em Língua Portuguesa e Literaturas da Língua Portuguesa - USM


“Seu cérebro, todo cérebro é um trabalho em progresso. É um plástico. Do dia em que nascemos ate o dia que morremos, ele continua (rever/ reorganizar/ transformar/ remodelar) melhorando ou caindo como uma função de como usá-lo”. (Michael Merzenich)

 

“A arte de ensinar é a arte de ajudar na descoberta”. (Mark Van Doren)

 

 

1. INTRODUÇÃO.

Cada língua tem seu próprio conjunto de regras, aprender as quatro habilidades (in put/output: absorção/quantidade de informação que entra- produção/rendimento) como uma segunda língua (L2) pode dar aos alunos um certo receio, ansiedade e também insegurança.

A ideia desse ensaio é dar algumas dicas e mostrar como a aquisição de uma segunda língua demanda esforço e dedicação todos os dias.

Requer algumas horas para estudar, praticar e desenvolver as habilidades, considerando o processo de aprendizagem individual.

 

2. O ESSENCIAL PARA APRENDIZAGEM.

Ter a (expectativa/Esperar) que todas as pessoas aprendam, usando os mesmos livros e mecanismos, é como esperar que todos usem o mesmo número de roupa.

Os (alunos/estudantes) devem evitar o silêncio, algumas pessoas tentam focar os estudos na pronuncia, aprender o máximo de palavras possíveis, mas se esquecem da comunicação.

Desde o início, a fala e a interação é fundamental.

Quando os alunos interagem com outros, eles se tornam mais motivados e os professores podem fornecer algumas estratégias, as tarefas podem ser orientadas para a fluência e (exatidão/precisão).

Embora provavelmente terão alguns erros na gramatica, faz parte do processo, especialmente quando a absorção da língua é limitada e (usualmente/geralmente/normalmente) não é necessária para sobreviver.

Além disso, cada pessoa tem o seu estilo individual de aprendizado, os pontos fortes e fracos, os comportamentos que são mais extrovertidos ou introvertidos.

Trabalhar em grupos ou em par (aumenta/melhora) a produção da fala e, na interação, outras habilidades da língua.

A interação entre estudantes é a chave para o sucesso no aprendizado.

Os professores podem fornecer atividades que, simultaneamente, permitem que os alunos façam uso das quatro habilidades.

Por exemplo, aulas de vídeo, músicas, algumas pesquisas; podem promover a interação e desenvolver efetivamente as habilidades.

Os alunos irão produzir as tarefas juntos usando os aspectos da língua, uma estratégia de aprendizado que fornece experiência cultural e permite a produção escrita.

Uma aula direcionada à apresentação pessoal pode ser uma excelente estratégia que integra as quatro habilidades.

Os alunos respondem uma certa quantidade de perguntas pessoais e, na sequencia, outros podem (recontar/repetir) as informações sobre seus (parceiros/colegas) de classe.

Desenvolver a confiança é o mais importante para os alunos, que devem estar preparados para criar, trocar informações utilizando situações reais.

Comunicar e expor o máximo possível (a fim de/no intuito de ) praticar e melhorar as habilidades.

Assim, sendo possível superar as dificuldades e alcançar os objetivos da aprendizagem de um idioma.

É necessário se (cercar/se rodear) do idioma e individualmente dedicar tempo para revisar tudo o que foi ensinado, de forma que o Idioma faça parte da rotina de estudos do educando.

A chave que abre a prática do sucesso é praticar, praticar e praticar.

No entanto, a experiência pessoal demonstra que, para uma aula de sucesso, a chave está também em um professor que é motivado e apaixonado.

 

3. TÉCNICAS PARA MOTIVAR E ENERGIZAR A AULA.

A aprendizagem de um idioma não depende somente do esforço do aluno, depende do professor (conquistar/atrair) à atenção do educando.

Atividades envolventes ajudam a atrair a atenção para que o aluno fale e crie oportunidades de aprendizado, guiando e gerenciando o processo de absorção do novo idioma.

É importante focar em diferentes combinações e parceiros, dependendo do numero de alunos, podemos dividi-los em dois ou três grupos ou em par.

Operação útil porque normalmente os educandos têm diferentes (experiências/conhecimentos).

Além disso, esta sistemática de trabalho pode contribuir para uma melhor interação e compartilhando experiências.

Apesar das dificuldades em trabalhar em grupos ou par, os alunos podem encorajar os colegas a desenvolver um resultado melhor, dividindo diferentes experiências.

As aulas precisam ter o aluno como centro para aumentar a motivação e também a autonomia, garantindo um processo de aprendizagem otimizado e também uma melhoraria no desenvolvimento de habilidades que são as soft skills.

O professor também pode trazer alguns jogos, fazer competições e debates, para fazer com que a aprendizagem seja divertida, criando um ambiente saudável.

As soft skills quando normalmente (trabalhadas/utilizadas) melhoram a qualidade do processo de aprendizagem, criando alunos mais independentes e autoconfiantes, pois estarão preparados para construir um bom relacionamento entre colegas com diferentes características.

 

4. PROBLEMAS ESPERADOS NO ENSINO EM GRUPO.

Geralmente, acreditamos que os alunos sabem no mínimo o nível que é obrigatório para entender e se comunicar em sala de aula.

É especialmente importante quando os alunos devem explicar as ideias deles.

Aulas interculturais podem ser grandes oportunidades para desenvolver as necessidades dos alunos.

Às vezes, é necessário dar ao educando instruções e explicações mais lentamente, caso contrário podem ter alguns problemas para entender os comandos.

Flash Cards, fotos e gestos podem ajudar a resolver o problema.

Tentar transformar a aula em divertimento, ajuda no processo de aprendizagem, principalmente quando é realizado em grupo.

No entanto, o professor deve ser entusiasmado, ativo e trabalhar duro porque a diversidade linguística também pode ser um problema.

Dar aos alunos a chance de falar mais uns com os outros, não hesitar em dar ideias, manter uma comunicação constante; é benéfico para facilitar e estimular a aprendizagem de um novo idioma.

Não obstante, a timidez e a insegurança podem causar alguns problemas, o que exige do professor quebrar o gelo usando as ferramentas que propiciem descontração dos educandos.

Quando as pessoas não conhecem a cultura de outros países, pode ser difícil interagir.

Neste sentido, a tecnologia é uma importante ferramenta para enriquecer as aulas, possibilitando praticar vocabulário e pronuncia.

Também pode ser útil usar algumas curiosidades e vídeos sobre culturas e credos de outros países, inseridos no novo idioma.

Todas as dificuldades demandam uma atenção especial e algumas estratégias motivacionais.

Ideias inovativas podem ser a solução para dar coragem aos alunos para interagir e superar a timidez.

 

5. CONCLUSÃO.

Aprender um segundo idioma, efetivamente pode abrir grandes oportunidades na vida pessoal e no local de trabalho.

Alguns estudos tem sugerido que aumenta, inclusive, a forca cerebral, contribuindo com a melhoria do desempenho em diversos segmentos do saber.

Porém, para atingir o processo de aprendizado de uma segunda língua, é essencial superar o medo, ansiedade e insegurança.

Nesta tarefa entra o professor, que precisa articular a interação entre alunos, destes com no novo idioma e, sobretudo, ajudar o educando a superar o medo de falar com os colegas e de cometer erros.

Uma vez que a fala e a integração entre as pessoas constitui a essência de qualquer idioma e, portanto, do processo de aprendizagem de um novo idioma.

 

6. REFERÊNCIAS.

Cohen, Andrew D. Strategies in: Learning and Using a Second Language. Harlow: Essex, 1998.

Dornyei Zoltan. Motivation and Motivating in the foreign language classroom. Modern Language Journal, 1994. 

Lantolf, James P. Sociocultural Theory and Second Language Learning. Oxford: Oxford University Press, 2000.



sexta-feira, 19 de junho de 2020

A didática na formação do docente de filosofia.

FAPEN ON-LINE. Ano 1, Volume 6, Série 19/06, 2020.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
Licenciado em Filosofia - FE/USP
Licenciado em História - CEUCLAR.


RESUMO:
Pretende-se discutir a relevância do domínio da didática pelos professores de filosofia na educação brasileira e como a ausência de sua exercitação, na formação docente, impactou em uma imagem negativa sobre o papel da filosofia perante a sociedade. O que conduziu a oscilação entre a valorização e banimento da filosofia, a partir da redemocratização em 1985, no ensino fundamental, médio e superior. Implicando no debate crítico dos pressupostos envolvidos na formação docente no âmbito dos cursos de licenciatura em filosofia; na distinção entre a função exercida pelo professor de filosofia, pelo historiador da filosofia e pelo filósofo; e no respectivo papel desempenhado pela didática no processo educativo filosófico fomentador da cidadania.

PALAVRAS-CHAVE: Didática, Ensino de Filosofia, Formação Docente.

 

ABSTRACT: It is intended to discuss the relevance of the domain of didactics by philosophy teachers in Brazilian education and how the absence of their exercise, in teacher training, impacted on a negative image about the role of philosophy before society. What led to the oscillation between the valorization and banishment of philosophy, from the redemocratization in 1985, in elementary, high school and higher education. Involving the critical debate of the assumptions involved in teacher education within the scope of undergraduate courses in philosophy; in the distinction between the role played by the philosophy professor, the historian of philosophy and the philosopher; and the respective role played by didactics in the philosophical educational process that fosters citizenship.

KEYWORDS: Didactics, Philosophy Teaching, Teacher Education.

 

1. INTRODUÇÃO.

Depois de banido, em 1971, o ensino de filosofia foi integrado à praticamente todos os cursos no ensino superior após a redemocratização, em 1985; iniciando o debate sobre sua relevância na educação brasileira, deixando a discussão em aberto até hoje.

A filosofia foi incorporada ao ensino superior, dentro da amplitude das disciplinas introdutórias dos anos iniciais, como articuladora de uma erudição necessária ao perfil desejado de universitários pensantes, disponibilizando senso crítico e reflexivo essencial a todos os segmentos do conhecimento humano.

Isto não aconteceu por força da lei, mas espontaneamente, a partir da percepção da falta que a filosofia fez na formação profissional oriunda dos anos em que esteve ausente.

A legislação só reintroduziu a disciplina como obrigatória, na grade curricular, em 1996; porém, aplicada somente ao ensino médio, pela lei 9394 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

O que possibilitou, depois, a partir da década de 2010, um novo banimento da filosofia dos cursos universitários, sendo incorporada a disciplina de sociologia e segmentos afins ou transposta para o ensino à distância; inaugurando a educação hibrida, com carga horária presencial parcial e EAD.

Marcando uma oscilação da filosofia na educação brasileira, entre valorização e banimento, ressaltado a partir da fixação da disciplina como optativa no Ensino Médio, a partir da lei 13.415 de 1997, baseada na Medida Provisória nº 746 de 2016.

Na prática, banindo novamente a filosofia, tal como em 1971, sob o mesmo pretexto usado pelo governo ditatorial, instaurado em 1964, de eliminar a doutrinação ideológica.

Um debate ampliado e retomado pela Nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - lei nº 13.005/14 -, que instituiu o ensino através de competências e habilidades, por áreas, na Educação de Base, ao invés de conteúdos; inserindo mais uma vez a filosofia como obrigatória, embora sendo apenas um dos componentes de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Portanto, tornando a filosofia obrigatória no Ensino Fundamental e Médio, a despeito de diluída em uma carga horária exígua, inferior à necessidade que a disciplina possui para surtir efeito prático na formação do educando; mesclada a outros saberes, dentre os quais história, geografia e sociologia; pretensamente em nome da interdisciplinaridade.

A redemocratização do Brasil, em 1985, conduziu a um fomento do sentimento de cidadania, onde a filosofia foi colocada como principal instrumento necessário à educação do cidadão; mas, na ocasião, os centros de formação docente não estavam preparados para dar conta da demanda.

Até então a filosofia estava restrita a torre de marfim de centros de excelência internacional, formando pesquisadores e professores para segmentos onde a disciplina nunca deixou de ser obrigatória, como cursos de Licenciatura e Direito, dentre outros.

Principalmente quando foi instituída como obrigatória no Ensino Médio, não havia docentes em número adequado para lecionar filosofia, abrindo espaço para adaptações.

Foram utilizados professores com formação em outras áreas na cadeira de filosofia no ensino superior e na educação de base, com consequências extremamente negativas para imagem da disciplina no imaginário popular de parcela significativa da população com menor acesso ao desenvolvimento de erudição, justamente o segmento que mais necessitaria desta formação.

Ao mesmo tempo, aqueles com a formação adequada para lecionar, na maior parte dos casos, possuíam o conhecimento acadêmico, mas não o didático; com efeitos igualmente nocivos para a imagem da filosofia.

O resultado foi o vai e vem da disciplina na educação brasileira em todos os níveis, sem que a população se posicionasse maciçamente em defesa da manutenção e extensão da obrigatoriedade do ensino de filosofia.

 

2. A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO DE BASE.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs - para o Ensino Médio, seguindo a LDB de 1996, ainda em vigor, reafirmaram a importância da filosofia e da sociologia na formação da cidadania.

O que foi acompanhado por discussões no Congresso Nacional que resultaram em leis complementares e no fomento ao ensino de filosofia na Educação Básica, compondo a chamada filosofia para crianças.

A qual foi rapidamente introduzida em conceituadas escolas particulares e, hoje, está incorporada a Nova BNCC, então ministrada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental.

Entretanto, à medida que a popularização da filosofia começou alcançar o grande público leigo, com filmes e publicações especializadas vendidas em banca de jornal, deixando de pertencer somente à cultura erudita para adentrar a massificação e a cultura popular; no ambiente escolar, com raras exceções, o ensino de filosofia tornou-se penoso ao educando e sinônimo de “chatice”.

O que levantou a questão da formação docente e da adequação das práticas didáticas aplicadas ao ensino de filosofia.

Os problemas registrados em sala de aula no Ensino Médio e Fundamental, alcançando até mesmo o ensino superior, podem ter raízes fora deste âmbito.

O centro da questão pode não corresponder ao teor do conteúdo ministrado em filosofia, mas estar concentrado na formação do professor.

Por sua vez, a problemática encontra eco nos parâmetros curriculares contidos nos Projetos Políticos Pedagógicos - PPPs - estabelecidos para os cursos formadores de mão de obra docente, principalmente em seus pressupostos didáticos, portanto, nas licenciaturas em filosofia.

 

3. FILOSOFIA E PPP NA FORMAÇÃO DOCENTE.

A alegoria do “Mito da Caverna” demonstra como estudar filosofia pode ser difícil, cegar em um primeiro momento, fazendo pensar que não estamos entendendo nada e que aquilo não serve para absolutamente nada.

Daí, inclusive, um dos grandes problemas registrados também na formação dos professores de filosofia.

Os PPPs, nos cursos de licenciatura em filosofia, em geral, não trabalham sua grade curricular de forma a estimular a reflexão de alunos e professores para o questionamento do instituído.

É verdade que o PPP de qualquer curso precisa fazer escolhas, sempre contemplando certos objetivos, deixando em segundo plano alguns itens para priorizar outros (VEIGA, 2004: p.13).

Porém, o referencial teórico só pode ser colocado em prática se a realidade e contexto educacional, presente entre os educandos, é levado em consideração.

Ao passo que sempre devemos considerar a questão da diversidade e conduzir o educando a tolerância e respeito para com o outro.

O que, obviamente, não pode deixar de lado também os conteúdos e o enriquecimento cultural e cientifico do sujeito; mas, igualmente, deve considerar as futuras necessidades profissionais do educando.

No caso dos cursos de licenciatura em filosofia, o PPP precisa atender a demanda pela formação docente que possibilite ao futuro professor envolver seu aluno e trazê-lo para o conteúdo.

O grande problema é que as instituições formadoras de quadros docentes, para o ensino de filosofia, centralizam os conteúdos na história da filosofia.

Atendendo uma demanda vivamente presente na Europa, mas que não atende aos anseios e necessidades dos estudantes brasileiros.

Os PPPs dos cursos de licenciatura em filosofia deixam de lado, ou em segundo plano, as questões didáticas.

Aquelas nas quais deveria centralizar esforços, em função, inclusive, do que é a essência da filosofia: questionamento do que está por trás das aparências.

Não se pode esquecer que a filosofia nasceu na antiguidade agregando todas as áreas do conhecimento humano, sendo o que mais se aproximava do que hoje chamamos ciência em um sentido amplo (RAMOS, 2011).

 

4. A RESPONSABILIDADE DIDÁTICA DA FILOSOFIA.

Os filósofos foram os primeiros cientistas e professores, questionando o mundo através de grandes debates em praça pública.

Isto, antes mesmo do aparecimento da escrita, tentando derrubar as verdades estabelecidas.

Na ocasião, surgiu à maiêutica, um processo pedagógico atribuído a Sócrates, constituindo em multiplicar perguntas para obter, por indução de casos particulares e concretos, conceitos gerais (GOLDSCHMIDT, 1963a).

Portanto, desde seus primórdios, filosofia e didática são indissociáveis; uma vez que a discussão filosófica serve ao fomento da procura por respostas, exigindo técnicas de transmissão e troca de saberes, âmago do processo educativo e, simultaneamente, filosófico.

Neste sentido, a figura de Sócrates sintetiza a essência do que é a filosofia, sua utilidade e seu vinculo com a educação.

Procurava pelos jovens, passava horas em praça pública, interpelando os transeuntes, dizendo que quanto mais aprendia, mais percebia nada saber, pois ainda restava muito para conhecer.

Uma ideia expressa pela famosa frase: “Só sei que nada sei”.

Seu método didático consistia em destruir a ilusão do conhecimento, levando seu interlocutor a concluir, por si só, afirmações contraditórias, não tendo outra saída a não ser reconhecer sua própria ignorância.

Na antiguidade, a filosofia servia exatamente para isto, formar o senso crítico, o autodidatismo, fomentar o questionamento, a interação entre as pessoas em busca de uma construção coletiva do conhecimento e um olhar para fora de si mesmo, de volta ao interior do próprio sujeito e transformador da realidade; justamente o que contemporaneamente chamamos de processo educativo.

O que torna a formação docente, em sua dimensão pedagógica, extremamente complexa para os cursos de filosofia.

Uma vez que a formação em filosofia deveria propor a exercitação de práticas didáticas, ajudar a repensar conteúdos.

Neste sentido, poderia se objetar, como fez Kant no século XVIII, professor universitário de filosofia durante toda sua vida, que não se ensina a filosofar, somente se aprende, eliminando a necessidade da presença de professores com formação especifica (FIGUEIREDO, 2005).

O que, a primeira vista, tornaria inútil o curso de licenciatura em filosofia enquanto formador de quadros docentes na área, pois o filósofo não careceria de treinamento técnico.

Ele se construiria com o tempo e através de seus próprios questionamentos.

Alguns poderiam, inclusive, afirmar que a filosofia, como disciplina independente, não precisaria existir, devendo ser integrada aos parâmetros curriculares de outras disciplinas.

É neste ponto que entramos na discussão sobre a distinção entre professor de filosofia, historiador da filosofia e filósofo.

 

5. HISTORIADOR, PROFESSOR E FILÓSOFO.

Em um texto clássico, publicado originalmente no final da década de 1940, o francês Victor Goldschmidt, catedrático da Faculté des Lettres de Rennes, que formou uma geração de filósofos brasileiros que atuaram como docentes nas universidades; forneceu pistas valiosas para discernir as diferenças entre os que poderíamos chamar filósofo, historiador da filosofia e professor de filosofia.

É pena que estas pistas não tenham sido seguidas, pela intelectualidade brasileira, para ajudar a pensar a dimensão didática da filosofia e a estruturação da formação do licenciado no Brasil.

A despeito de terem sido desenvolvidas diferenciações importantes na Europa e boa parte do resto do mundo.

Em “Tempo histórico e tempo lógico na interpretação dos sistemas filosóficos”, Goldschmidt ressaltou que o estudo de textos escritos por filósofos comporta duas maneiras distintas de análise.

O método dogmático “é eminente filosófico (...) aborda uma doutrina conforme a intenção de seu autor”; o método genético, “buscando as causas, (...) se arrisca a explicar o sistema além ou por cima da intenção de seu autor” (GOLDSCHMIDT, 1963b: p.139).

Em linhas gerais, tanto uma como a outra metodologia servem ao entendimento da história da filosofia.

Nas palavras de Oswaldo Porchat Pereira, “a filosofia se constitui em história, (...) [pretendendo] situar e explicar por essa perspectiva histórica um sistema particular” (PEREIRA, 1968: p.08).

Em termos simples, o historiador da filosofia é aquele que faz a leitura dos autores clássicos e da estrutura, entende os argumentos por si mesmos, relaciona a biografia do filósofo e o contexto de época com seu texto.

É o tipo de análise que se ensina veementemente nos bacharelados em filosofia e, com menor grau de intensidade, nas licenciaturas.

O problema é que os graduados em filosofia são induzidos a pensar que ser filósofo é dominar o instrumental de interpretação dos sistemas filosóficos ou, ainda, lecionar filosofia é ensinar os educandos a lidar com a metodologia dogmática e genética.

Em certo sentido, ensinar filosofia também passa por introduzir os educandos nestes referencias teóricos filosóficos, pela leitura de alguns clássicos e pelo domínio do instrumental de interpretação de textos.

Todavia, este é um efeito ou extensão da real abordagem da filosofia no ambiente escolar.

O centro do ensino da filosofia não está fixado na história da filosofia, precisa ir além e não se aprofundar tanto ao mesmo tempo.

Um professor de filosofia não deve tentar ser um historiador.

Necessita transpor as barreiras impostas pelos sistemas filosóficos, construídos para não comportar falhas internas, à medida que compostos por conjuntos de ideias pensadas ao longo de toda uma vida, que dialogaram com seu próprio tempo e os contemporâneos do autor.

O professor de filosofia, dominando técnicas pedagógicas e discussões epistemológicas em torno da educação, precisa saber fazer os clássicos dialogarem entre si, enxergando linhas temáticas mais amplas, relacionadas com o cotidiano do educando.

É preciso que o professor domine e exercite a didática, apesar de sua formação ter lhe ensinado o contrário, desloque do “primeiro plano a preocupação pela estrutura” (GOLDSCHMIDT, 1963b: p.145).

O professor de filosofia, pegando um termo emprestado de Goldschmidt, precisa tomar consciência de sua “responsabilidade filosófica”, criando um ambiente onde “o pensamento se experimenta e se lança, sem ainda determinar-se”; podendo “prevalecer contra a obra, para corrigi-la, prolongá-la ou coroá-la” (GOLDSCHMIDT, 1963b: p.146-147).

Encontra-se neste ponto a confusão, pois os futuros professores de filosofia são treinados pelas licenciaturas para serem historiadores, quando esta seria a função do bacharel.

Ao professor caberia não aceitar ser conduzido pelos pensadores clássicos, mas dirigir a formação da cidadania, ajudando o educando na passagem da heteronomia para a autonomia.

Como lembrou José Eustáquio Romão, “o educando não pode construir sua própria interpretação da realidade, porque ela só lhe aparece como um reflexo do olhar de seus educadores”, remetendo novamente a questão da didática como centro do processo educativo (ROMÃO, 2004: p.149).

É obrigação do professor de filosofia, dentro da proposta da formação da cidadania pela LDB e Nova BNCC, incentivar rupturas e questionamentos.

Não se trata somente de promover o diálogo e a interdisciplinaridade, como pensam a maioria dos gestores educacionais e intelectuais, o ensino de filosofia precisa ser formador de criticidade.

O professor de filosofia, para trabalhar transversalmente, deve plantar a duvida no educando, uma atitude que pode incomodar, pois fomenta o questionamento de conteúdos e verdades estabelecidas, de posturas metodológicas.

A partir desta visão de filosofia, a pergunta que surge é: ao proceder como instigador da curiosidade e agente formador da cidadania, não poderia o professor ser chamado de filósofo?

A resposta não é tão óbvia como parece à primeira vista, porque ao pensar o mundo a sua volta e relacioná-los com contextos e autores clássicos, o professor não deixa de filosofar e incentivar o livre pensamento de seus alunos, que, dialogando como iguais entre si e com ele próprio, também terminam filosofando.

É claro que o professor, ao preparar suas aulas, também é um pesquisador, contribuindo para a construção do conhecimento humano.

Ao lecionar, problematizar e tentar responder questões em conjunto com seus alunos, aprofunda seus próprios conhecimentos (SAVIANI, 2004: p.10).

No entanto, o professor de filosofia não é um filósofo, este último exerce uma contribuição diferente para a sociedade, atuando em uma função também distinta do historiador da filosofia.

O filósofo não precisa, necessariamente, concentrar sua atenção na interação com o outro ou no fomento a cidadania, também não dedica integralmente seu tempo a entender seus pares, embora possa fazê-lo para estabelecer criticas e exercitar um diálogo que ajude na construção de seu sistema filosófico.

Ele pensa o que tudo que o rodeia e tenta ir além das aparências, tal como o professor de filosofia, mas estrutura suas conclusões de forma rigorosa e sistematizada.

O filósofo ultrapassa as questões práticas para teorizar e construir um pensamento que dialoga com seus contemporâneos, mas também com as gerações futuras e com o mundo.

O que não significa dizer que não careça de formação técnica especifica, como em qualquer outra área do conhecimento.

Não existe filósofo sem formação acadêmica superior, é uma piada de muito mal gosto utilizar o termo para designar indivíduos que se dizem filósofos sem nem ao menos ter concluído a educação básica.

Algo comparável a chamar de engenheiro alguém que domina apenas os rudimentos da escrita.

Neste sentido, enquanto o historiador e o professor de filosofia exercem trabalhos técnicos, carecendo do domínio de instrumentais específicos; o filósofo também precisa de conhecimentos técnicos, mas que se inserem em outros pressupostos.

O que não impede um professor ou historiador da filosofia de se tornar um filósofo, simultaneamente, desde que cada função não prejudique o desenvolvimento adequado da esfera vizinha.

Uma postura que quase nunca foi observada ao longo da história do ensino de filosofia no Brasil, daí a confusão reinante que ainda não consegue distinguir o professor do historiador e do filósofo.

O que certamente interfere na concepção didática contida no ambiente educacional, distorcendo a formação docente e, também, a relação professor/aluno no Ensino Fundamental, Médio e Superior; com reflexos nos conteúdos ministrados e na imagem da filosofia perante a sociedade.

 

6. CONCLUSÃO.

No Brasil, existe uma disparidade entre o que os Projetos Político Pedagógico, dos cursos de licenciatura em Filosofia, deveriam ser e o que é; interferindo na formação dos professores e na sua relação com a didática aplicada em sala de aula em todos os segmentos da educação.

Na teoria é um documento participativo e coletivo de transformação, mas a grande questão é que os próprios profissionais da educação desvirtuam o PPP.

Muitos se quer sabem o que é, enquanto outros apenas fingem colocá-lo em prática.

Talvez o caminho, para corrigir este erro, passe pela formação dos professores, um momento em que deveria haver uma conscientização do real papel da didática no exercício do oficio.

O que, pensando dentro do âmbito da formação docente voltada ao ensino, exige priorizar a formação da cidadania e não conteúdos da história da filosofia, estabelecendo uma relação naturalmente pedagógica entre o futuro professor e seu potencial educando.

A LDB - lei 9394/96 - prevê a cidadania como centro do ensino de filosofia; o que foi ratificado pela educação através do desenvolvimento de competências e habilidades, a partir da Nova BNCC.

No Capitulo II, Seção IV, Artigo 36, da LDB, junto com a sociologia, a filosofia é definida como “[conhecimento] (...) [necessário] ao exercício da cidadania”, embora seja recomendada apenas para o ensino médio.

Quanto ao ensino fundamental, no mesmo Capitulo, Seção I, Artigo 22, quando são definidas as intenções da educação básica, é feita a menção “a finalidade [de] desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.

No entanto, na Seção III, que trata especificamente do ensino fundamental, a filosofia não é citada diretamente, embora seja mencionado, no Artigo 32, o “objetivo a formação básica do cidadão, mediante (...) o fortalecimento (...) dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”.

Uma definição que, sem intenção concreta, penetra no âmago do que é a filosofia e nas possibilidades abertas por seu ensino na educação básica, no nível médio e nas instituições de nível superior.

Junto com outras disciplinas, o saber filosófico “implica o conhecimento, o uso e a produção histórica dos direitos e deveres do cidadão e o desenvolvimento da consciência cívica e social, que implica a consideração do outro em cada decisão e atitude de natureza pública ou particular” (PCNs, 2002: p.44).

Uma aprendizagem que deveria conduzir o educando a consciência de si mesmo e do outro, da diversidade e do processo de contínua reconstrução da sociedade.

O que foi incorporado a BNCC, mas sem a devida diferenciação com relação a outros componentes das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Envolvendo interdisciplinaridade e contextualização de conteúdos em sentido transversal, mas também especificidades da filosofia que, no âmbito da BNCC, não conta com amparo adequado quanto à carga horária reservada e relevância filosófica particularizada.

No entanto, como lembrou Saviani (2004: p.47), uma pedagogia coerente e eficaz está atrelada “com o problema da compreensão do homem; que tipo de homem pretendemos nós atingir através da educação”.

Para realizar esta reflexão é necessário repensar o que entendemos por cidadania, um conceito complexo e, simultaneamente, abrangente, que não cabe neste momento.

Seja qual for esta definição, o cidadão não existe sem criticidade, consciência de si mesmo e do mundo que o rodeia.

Pensando assim, a filosofia, assumindo uma postura instigadora, poderia ajudar os indivíduos a problematizar sua realidade para transformá-la.

Porém, quase nunca o ensino de filosofia cumpre este papel, visto a disciplina, tanto na educação básica como superior, seguir uma linha de orientação equivocada, com conteúdos muito simplistas ou, ao inverso, herméticos.

Um erro em grande parte advindo de uma formação docente inexistente ou distorcida, que confunde o professor de filosofia com o historiador da filosofia ou o filósofo.

É neste ponto que a construção coletiva dos PPPs, nos cursos de licenciatura em filosofia, deveria buscar a adequação dos pressupostos didáticos às reais necessidades da sociedade contemporânea.

Deixar de lado a importação de tendências e assumir uma postura mais próxima da realidade escolar, no ensino médio e fundamental, deveria ser a principal preocupação da BNCC e da formação propiciada pelos cursos de licenciatura em filosofia.

Somente tendo acesso a uma formação adequada, os quadros docentes na área de filosofia poderão quebrar os estereótipos e mostrar sua utilidade, seduzindo os educandos e demonstrando como a filosofia está intensamente presente na vida cotidiana e intimamente relacionada com o processo didático de construção da cidadania.

 

7. REFERÊNCIAS.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2017.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília: MEC, 1996.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) - Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2002.

CARDOSO, Sérgio (org.). Retorno ao republicanismo. São Paulo: UFMG, 2004.

CARMINATI, Celso João. O ensino de filosofia no segundo grau: do seu afastamento ao movimento pela sua reintrodução. Florianópolis: UFSC, 1997.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

CERQUEIRA, L. A. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópolis: Vozes, 2002.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

EDGARD, Andrew & SEDGWICK, Peter. Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para o entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003.

FIGUEIREDO, Vinicius de. Kant e a Critica da Razão Pura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

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segunda-feira, 25 de maio de 2020

O ensino e a pandemia: adaptação da prática docente pelos professores de matemática, química e física.


FAPEN ON-LINE. Ano 1, Volume 5, Série 25/05, 2020.



Profa. Janaina Barboza Ramos.

Professora no Colégio Pentágono.


RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar a pesquisa feita com professores das áreas de matemática, química e física sobre as ações para adaptação da prática do ensino, que devido ao momento da Pandemia do CONVID-19, tornou necessárias novas maneiras de ensinar inseridas no ambiente virtual. Tendo como referência o ensino fundamental e médio, onde o ambiente virtual não era totalmente conhecido.

PALAVRAS-CHAVE: Professores; Ensino; Exatas.

 

ABSTRACT: This article aims to analyze the research carried out with teachers in the areas of mathematics, chemistry and physics on actions to adapt to teaching practice, which due to the moment of the CONVID-19 Pandemic, new ways became necessary, and such as the virtual environment. And still being a reference for elementary and high school, where the virtual environment was not fully known.

KEYWORDS: Teachers, Teaching, Exact.

 

1. INTRODUÇÃO. 

No início do ano 2020, as notícias já corriam pelo mundo sobre a pandemia, ocorrida devido a um vírus com a sigla de CONVID-19, chamado corona vírus, iniciado no ano anterior no continente asiático, especificamente na China.

O surto iniciava uma pandemia, conforme o dicionário Michaelis: “doença epidêmica de ampla disseminação”.

Pelas informações e notícias que corriam sobre o perigo do vírus e as consequências do mesmo: “o surto do coronavírus começou em dezembro de 2019, em Wuhan, a capital da província de Hubei, onde se concentram as mortes causadas pelo coronavírus.Hoje, há 60 milhões de pessoas isoladas do resto do mundo na região” (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/02/16/xi-jinping-lider-da-china-sabia-da-gravidade-do-coronavirus-desde-janeiro-mas-nao-fez-alerta.ghtml) acesso em 20 de abril de 2020).

No inicio, a preocupação no Brasil era quase nula, pois até o mês de fevereiro não havia registro de contaminados, tudo estava normal, existiam apenas notícias que vinham de outros países, alias, outros continentes.

Em março surgiu o primeiro caso confirmado em pessoas que vinham fora do Brasil, estavam a trabalho ou passeio.

Em seguida, as primeiras informações eram que o risco da contaminação ocorria onde havia aglomerações, foi quando os governantes, já conhecendo o que ocorria pelas notícias de outros países, partiram para tentativas iniciais de controle do surto, interrompendo, em alguns Estados, o fluxo de pessoas em locais de aglomeração: comércio, centros educacionais e religiosos.

Trataremos aqui justamente dos impactos na educação. Quando surgiu a preocupação em como adaptar o ensino, em pleno andamento do primeiro bimestre, em escolas de nível fundamental e médio. 

Um momento em que foi preciso lidar também com pais e alunos com dúvidas e insegurança; atendendo, no Estado de São Paulo, as determinações com força de lei colocada pelas autoridades locais.

No âmbito acadêmico, este estudo pretende contribuir para o entendimento do desafio do ensino em tempos de pandemia para os professores de matemática, química e física.

Em exatas, por envolver cálculos, os professores precisaram construir estratégias para trabalhar como facilitadores, um grande problema em se tratando da educação voltada para crianças e adolescentes.

Em função disso, este estudo tem por objetivo identificar como foi a adaptação dos professores de matemática, química e física perante o atual momento.

Quadro 1 apresenta a relação entre questões a serem respondidas na pesquisa e os objetivos específicos.

 

 


2. REVISÃO DA LITERATURA.

 

2.1 O sentido do ensinar e aprender.

A questão do ensinar e aprender, em um momento de pandemia, constitui um processo centrado no professor, pois este precisou reaprender a ensinar, ou de maneira popular “se virar”.  

Um grande problema para matemática, química e física; visto que o conteúdo formado por cálculos, onde o professor procura demonstrar de forma clara e dissertativa, aos alunos, como desenvolver o módulo demonstrado.

No ensino presencial, existe um apoio do professor ao educando, sendo essencial a interação presencial; a mudança da situação, com a pandemia, inverteu esta lógica, fazendo surgir mais um problema: a integração com a tecnologia.

A questão é que, retomando o que se dizia no passado, citando Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”; a situação passou a exigir “criar as possibilidades para (...) produção” do conhecimento (1996, p.26).

Surgiu a obrigatoriedade de criar uma nova visão do ensinar e aprender, buscando desenvolver possibilidade para facilitação da aprendizagem.

As  transformações tecnológicas acumuladas nas duas últimas décadas, ignoradas pela realidade educacional brasileira, precisaram se assimiladas em poucos dias.

A pandemia paralisou tudo, mas não a educação. Fomentou a necessidade de uma nova visão do ensinar e aprender, forçando mudanças.

O momento não é único, o tempo vai transformando as ideias, os estudos, a visão do homem; mas a pandemia acelerou a mudança de paradigma.

Furtado dos Santos, em 2008, já citava a necessidade de mudança dos paradigmas na educação para implementar um novo ensinar e aprender.

Descrever o mundo, seus fenômenos e processos, caracterizar os métodos e estratégias de intervenção, sempre foi o principal papel da escola.

Tudo sempre esteve bem “arrumadinho”: professor ensina algo inquestionável, aluno aprende e reproduz exatamente com aprendeu e todos são felizes para sempre, como nos contos de fadas.

Mas esse conto continua e, depois do “final feliz”, tem início um período sombrio, recheado de incertezas, de novos paradigmas e impulsionado pela mudança cada vez mais frequente. (SANTOS, 2008, p.63)

Seguindo ainda esta reflexão, quando o autor mencionava um “um período sombrio, recheado de incertezas” parecia prever o momento de pandemia.

Obviamente, a sua preocupação era com a modernização da educação, no sentido de aguçar as crianças e adolescentes para o estudo, pensada em termos gradual, não de um dia para o outro. 

Certamente não foi pensada ou prevista em meio ao desenvolvimento do calendário escolar de 2020, sem prévio planejamento.

A pandemia forçou a necessidade de mudança de como o professor  ensinava e aprendia, ampliando o horizonte antes estacionado, conduzindo até a centralização no papel desempenhado pelos docentes. Uma vez que:  

 

“se espera muito dos professores, que se lhes irá exigir muito, pois depende deles, em grande parte, o a concretização dessa aspiração (desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades). A contribuição dos professores é crucial para preparar os jovens, não só para encarar o futuro com confiança, mas para construí-lo eles mesmos de maneira determinada e responsável.” (DELORS, 2000, p.152)

 

Diante da importância dos professores no processo educativo, não adianta simplesmente mudar leis para forçar sua adequação aos novos tempos. 


2.2 Educar à distância.

Nas últimas décadas, já era muito comum o ensino à distância, popularmente chamado EAD, mas estava, antes da pandemia, apenas no ensino superior e alguns outros poucos nichos.

A pandemia deslocou e generalizou o uso das novas tecnologias para o ensino fundamental e médio, onde existia uma certa tentativa de introdução ao EAD, principalmente como meio de comunicação, nas escolas particulares, entre gestores e seus professores com os pais e alunos; utilizando aplicativos, sites, e-mails, etc.

No segmento de humanas e linguagens, a relação impessoal, mediada por tecnologias, já estava consolidada, mas entre os professores de exatas era praticamente desconhecida.

Os docentes desta área precisaram, primeiro, entender o que é o ensino à distância. Segundo Niskier:

 

“...educação a distância é a aprendizagem planejada que geralmente ocorre num local diferente do ensino e, por causa disso, requer técnicas especiais de desenho de curso, técnicas especiais de instrução, métodos especiais de comunicação através da eletrônica e outras tecnologias, bem como arranjos essenciais organizacionais e administrativos.” (1999, p.50)

 

Depois, foi necessário se apropriar de “técnicas especiais", providenciar uma mudança de paradigma em tempo extremamente curto.

Em exatas, tornou-se evidente a necessidade de técnicas especiais, surgiu a questão de como atrais e ajudar o aluno a entender a importância do cálculo, apresentado por uma tela. 

O professor ficou sozinho, sem sua turma, em frente a uma tela de computador dentro de sua casa; aluno também ficou sozinho do outro lado dessa tela, ambos foram pegos de surpresa. 

O que, inicialmente ampliou os velhos problemas existentes na educação brasileira e criou outros, enquanto algumas escolas particulares e a maioria das públicas optaram por antecipar férias; outras prosseguiram com a educação remota, com aulas on-line, tentando reproduzir o ambiente como se estivesse na escola.

O que foi referendo e respaldado pelas diretrizes legislativas do país e do governo do Estado de São Paulo. 

O Decreto nº 2.494 da Presidência da República, regulamenta o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), cita logo no inicio que:

 

“Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação." (BRASIL, 1998)

 

Em sentido amplo e dentro destas diretrizes legislativas, deve-se ressaltar, novamente, que a educação não é algo recente, já existia, até mesmo no ensino fundamental, pois lições complementares, em algumas escolas, utilizavam sistemas e aplicativos para aplicação. 

No entanto, o ensino online até então não existia na educação básica, a tecnologia de comunicação era usada somente no reforço ao abordado no presencial, em geral, como lição de casa..

A pandemia transformou o que era complemento em centro do processo educacional, em um primeiro momento, os professores entraram em uma situação de surpresa, inseridos em um momento de preparação para lidar com a tecnologia.

O impacto maior foi o desconhecido, do dia para a noite foi necessário se apropriar de recursos que eram secundários ou não utilizados; ou ainda melhor de um dia para o outro, mudar a rotina, lembrar que agora era um professor presente à distância, sem recursos conhecidos, mas com uma rotina e conteúdos a serem abordados obrigatoriamente.

Conforme Belloni:

 

“A educação é e sempre foi um processo complexo que utiliza a medida de algum tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em sua interação pessoal e direta com os estudantes”. (1999. p.54)

 

Por isso, a ação do professor sempre foi o grande desafio, requerendo a utilização de recursos de comunicação diversos, mas, no Brasil, geralmente, não ultrapassado a zona de conforto do conhecido como tradicional.

Analisando um estudo de caso, com dados levantados junto a professores de uma escola particular da região metropolitana da cidade de São Paulo; pudemos notar que os professores se adaptaram de forma rápida para providenciar saídas para o “novo” momento causado pela pandemia.


3. METODOLOGIA DA PESQUISA.

A metodologia aplicada para esta pesquisa é de natureza qualitativa/exploratória, realizada através da coleta de dados com base em entrevistas.

Diante da pandemia, as entrevistas usaram recursos da distância, no caso o Google Forms (através de formulário), onde ficou registrado os dados qualitativos.

Focou-se em saber como os professores conseguiram se adaptar a urgência do ensino online, no momento da suspensão das aulas presenciais.

As questões foram formuladas de forma individuais, semiestruturadas, registradas nos Google Forms com a amostra de 3 professores das devidas matérias citadas: matemática, física e química.

Seguindo Bardin, “o material verbal obtido a partir de questões abertas é muito mais rico em informações do que as respostas a questões fechadas ou pré-codificadas” (2011, p.180). 

As questões foram aplicadas considerando um script de quatro perguntas, estruturadas de forma a otimizar a análise de conteúdo, e foram conduzidas individualmente.

O método de análise dos dados coletados, através das questões, foi o de análise de conteúdo.

 

Questionário foi elaborado a partir dos constructos:

1 – Como o professor se encontrou nesse momento?

2 – Quais as dificuldades encontradas?

3 – A posição dos alunos perante a situação?


4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.

Este tópico demonstrará as questões apresentadas e respondidas pelos 3 entrevistados, relacionando-os ao referencial teórico e às possíveis inferências que causou a situação do COVID-19.

Segue, a discussão dos resultados conforme os objetivos específicos abaixo no Quadro 2:

 

Os professores gentilmente colocaram-se à disposição e responderam as questões, mesmo diante de tantas surpresas e desafios para enfrentar a situação e superar o que estava ocorrendo. Cada um de uma das áreas sugeridas como a reflexão do artigo.

Em primeiro momento, o importante da visão dos entrevistados foi a confiança do desafio, não mediram esforços e entenderam que tudo seria possível resolver, claro, sendo de uma unidade particular, que também tem integração de faculdade, tiveram suportes como o da área de TI e sistemas já disponíveis de uso. E se colocaram à disposição sem medir esforços!

A professora de Física, perante a situação, no primeiro momento: “Primeiramente uma vasta pesquisa sobre ferramentas disponíveis que pudessem me auxiliar, buscas em sites, conversas com amigos de TI (...).

No segundo momento verificar se estes recursos que são muitos e fascinam pelo sinal eu poderia instalar no equipamento que tenho disponível. E aí vem a tristeza, não consegui instalar tudo o que me apaixonei.

Procurei então utilizar os aqueles que no momento conseguia trabalhar. Logicamente nada substitui as aulas presenciais, mas confesso que sou grande admiradora deste tipo de recurso.”

O professor de Química partiu também para bases que já oferecia a escola: “Utilização de plataformas, realização de vídeo aulas, slides, seminários e discussões online com compartilhamento de telas.”

A entrevistada, professora de Física, demonstra claramente que atualmente temos recursos para suprir situações como essa, mesmo não sendo esperada, e não constar na programação, porém buscando soluções é possível resolver os desafios. Como também o professor de Química que aproveitou a plataforma que a própria escola já o oferecia, até que aprimorasse novas soluções.

Os professores entrevistados também entenderam que a adaptação dos alunos, do ensino fundamental II e Ensino Médio, em primeiro momento foram difíceis, com acertos e aceite das crianças e adolescentes perante uma coisa tão diferente da rotina de vida deles.

Participar de uma sala de aula “online” com a distância do professor e amigos de sala, em casa, com tantas notícias, os deixaram como um primeiro susto, porém pelo informado eles estão se adaptando.

O professor de matemática foi claro: “Os alunos apresentaram um certo grau de dificuldade no começo, porém se adaptaram bem ao novo método”

A professora de física expressou sobre as dificuldades: “Muito complicado, principalmente pelo momento que estamos passando.

Nas primeiras semanas muitos ajustes. Agora nos parece até que está fluindo melhor. Mas foi imposto, eles não estão preparados em todos os sentidos.”

Porém também encontrada as dificuldades para o ensinar a distância, não tendo a experiência, e a rotina desse fato.

O primeiro momento também foi de dificuldade para os professores, as divergências do momento, e como a adaptação de cada um, reforçando nessa a opinião dos 3 entrevistados, matemática, química e física que tanto necessitam de espaço físico, como uma lousa que seja, para expor as ideias e a troca de informação com os alunos.

O professor de matemática expôs a dificuldade conforme declarado: “Problemas com a conexão e no começo uma interação maior com os alunos.”

O professor de química ressaltando a falta do contato: “A falta do contato, das discussões e interação com os alunos. O compartilhamento de ideias e a falta da vivência em âmbito social dificuldade o processo de aprendizagem como um todo.”

E a professora de física a urgência do tempo: “Para este momento a falta de um planejamento prévio. Está sendo tudo preparado na véspera e muitas vezes no contra turno”.

Conforme ressaltado no início do artigo, o interesse para a pesquisa focada em professores de química, física e matemática, são principalmente a base principal das 3 matérias, cálculos, e como muitos demonstram as dificuldades, então a preocupação e o interesse em entender como conviveram nesse momento para conseguir auxiliar os alunos e demonstrarem algum modo de trazer os alunos ao entendimento.

Como tratando-se do além de sala de aula, laboratório, lousa, e sim uma tela entre as partes, os professores informam como acharam solução e conseguiram seguir.

O professor de matemática explica que: “Deixo os exercícios resolvidos no PowerPoint e no caso de dúvidas resolvo o exercício em folha de sulfite mostrando algum detalhe específico.”

O professor de química partiu para outros meios como diz: “Compartilhamento de tela com caneta do powerpoint e gravações de vídeos de resoluções feitas por mim.”

Já a professora de física procurou outros recursos: “Como recurso um programa de lousa digital, vídeo onde faço a resolução passo a passo. Enfim depende da aula e dúvidas que vão surgindo”

Nota-se o desafio encarado por todos, esta pesquisa está resumida a uma escola que paralisou o funcionamento somente em uma semana do mês de março, quando se iniciou as declarações governamentais de fechamento, atendo as normas colocou os professores em ação para que em breve cumprisse o necessário, até que urgentemente fosse decidida a maneira de trabalho, através de um programa ao qual já havia parceria, o Team da Microsoft, e também utilizar um outro no qual já era comum para controle de notas, faltas, e afins e chamado SEI.

Professores tiveram apoios e suporte de equipes de TI, sendo sempre orientados, reforçamos tais informações para que seja entendida a opinião e dificuldades encontradas por eles.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A pesquisa realizada foi com a intenção de compreender a situação dos professores de física, química e matemática com a situação passada da urgência das mudanças e continuar a lecionar da maneira que fosse possível.

O objetivo foi atendido com as quatros questões analisadas.

O primeiro objetivo específico era identificar o grau de conhecimento do professor e como se adaptou ao mesmo.

Os resultados foram bem claros a respeito do esforço, e do interesse de buscar o melhor para atender os alunos e a situação. Sendo objetivos e em todo momento se dedicaram em busca do melhor.

O segundo objetivo específico era saber a respeito da adaptação dos alunos junto à mudança para aula “online”, como eles se encontravam nesse momento.

Os professores reforçaram que ouve uma dificuldade dos alunos em se adaptar e aceitar de primeiro momento, mas estavam se acostumando e entendendo a necessidade da maneira utilizada, virtual.

O terceiro objetivo específico identificar as diferenças com o desafio do ensinar de outra maneira, a distância como foi o ocorrido.

Os professores ressaltaram os problemas mais simples como os de conexão, por depender de tudo pessoal para desenvolver o trabalho, até mesmo como aplicar os cálculos para que fosse possível aos alunos entenderem. Mas reforçando que com o tempo foram também se adaptando.

O quarto objetivo específico foi identificar as maneiras aplicadas para trabalhar junto aos alunos, sendo a base de cálculos.

Mais uma vez todos citaram um primeiro momento de dificuldade, as maneiras para poder expressar os cálculos para facilitar a compreensão, ainda que diferente da sala de aula, mas, que atraísse a atenção e o interesse dos alunos.

Com a pesquisa feita, a voluntariedade de três professores contribuindo para entendermos como foi a interação com a situação COVID e a mudança ocorrida, foi possível notar que o esforço contribuindo com a assistência e apoio da escola e outros professores, como também informado que tiveram (e têm) reuniões de suporte e sugestões, demonstra que nessa escola estudada foi possível conseguir prosseguir os bimestres correntes.

Adaptaram professores e alunos, de maneira a se unirem e seguirem os ensinos e aprendizagem, mesmo sendo muito longe da rotina acostumada, mas com tanto trabalho e mudanças conseguiram seguir o barco no mar revolto.

 

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